segunda-feira, 7 de julho de 2008

cultura indígena

Vários aspectos culturais podem ser destacados, entre eles os tabus, as crenças, os artesanatos, as danças, as músicas, as relações de parentesco, a organização social, econômica e política, bem como diversos conhecimentos tradicionais associados ao uso dos recursos naturais. Quanto aos tabus, em geral, eles estão associados aos hábitos alimentares de crianças, mulheres gestantes e caçadores. As crenças dizem respeito à forma de conduta dos Nawa com a floresta, com os animais e com as plantas. Já o artesanato inclui diversos objetos como potes de barro, colares, pulseiras, vassouras, cestos e outros.
Atualmente os Nawa dançam o Mariri - assim como diversos povos Pano - e cantam várias músicas indígenas, algumas compostas por eles e outras aprendidas com os mais idosos. Os Nawa têm cerca de dez músicas que são cantadas nos seus rituais denominados por eles de Shãnãdãiã, em que cantam suas músicas, dançam em roda ou em fila, usam seus trajes e adornos indígenas, pintam o corpo e consomem caiçuma, uma bebida feita de milho ou de mandioca. Este ritual é de extrema importância por reforçar os laços sociais, culturais e a identidade dos Nawa. Esses eventos não contam com datas preestabelecidas para sua realização, pois ocorrem sempre que eles sentem a necessidade de se reunir. O ritual do shãnãdãiã, transmitido dos mais velhos para os mais novos, agora é também ensinado na escola indígena, onde as crianças aprendem as danças e os cantos.
Reforçando a cosmologia adquirida após o contato, os Nawa freqüentemente realizam o ritual da missa católica. As missas são feitas nas residências por não ter sido construída nenhuma igreja na Terra Indígena. Quando, esporadicamente, um padre desloca-se até a região, as missas são celebradas em uma igreja situada na Terra Indígena Nukini, contanto com a participação dos Nawa.
Outros rituais desenvolvidos pelos Nawa, e associados com a cultura dos povos Pano, dizem respeito às práticas xamanísticas. Entre os Nawa há um pajé, conhecido pelo nome de Langa. Em seus rituais de cura, realizados em sua residência ou na do paciente, ele utiliza diversos medicamentos obtidos na floresta e faz uma espécie de defumação do enfermo com charuto, em meio a várias rezas proferidas na língua indígena. Segundo ele:
Eu curo com cachimbo, a pessoa está com febre, está doente, aí eu curo, a cabeça. Eu fumo aquele tabaco, quando não é com tabaco é com folha da mata, esfrego na cabeça. Ali dizendo as palavras da mata, do meu pai. Ele curava. Do jeito que ele curava eu curo também. Aprendi isso aí com ele (Pajé Langa, 2003, Novo Recreio).
Dentro da cosmologia Nawa, pode-se destacar ainda práticas e crenças relacionadas com as atividades de caça. Para evitar que um caçador fique com panema (indisposição e incapacidade de caçar), as mulheres não podem pegar nas armas de caça nem varrer a casa quando o caçador vai sair para caçar. Se estiver com panema, colocam o sumo de uma folha chamada churrô no olho para enxergar e acertar a caça. O cipó do Churrô também pode ser usado para fazer defumação. Para defumar, usam o tipi (uma planta) e pêlos de porco, veado, anta e outras caças. Misturam tudo, colocam pimenta e fazem uma fogueira. O caçador, seus instrumentos e o cão de caça permanecem por longo tempo na fumaça. Além da defumação, para tirar panema, usam o pião roxo. Com ele a mulher bate no homem, proporcionando-lhe mais sorte na caçada. Para terem mais sorte na pesca, bebem um “remédio da mata”.
Há tabus alimentares que recaem principalmente sobre as mulheres. Para os Nawa, se uma gestante comer o peixe denominado Mandim, ela pode ter hemorragia. Outros animais, como o jabuti, o peixe de couro e a paca também são interditados às gestantes.
A observação de alguns animais são indicadores de chuva, segundo os Nawa. Assim, há um sabiá que “adivinha chuva”. Caso o urubu amanheça cantando, é sinal que irá chover. O pássaro denominado uru, quando canta, é porque vai chover. Mas se o tempo já estiver chuvoso, e ele cantar, é porque vai fazer sol no outro dia. O sapo quando canta como galinha choca é porque vem chuva. O sapo canoeiro quando canta é porque vem sol. Quando a ingazeira flora fora da época é porque em três, quatro dias ocorrerá uma chuva forte.
Há a crença de que alguns barreiros, localizados na região das cabeceiras dos igarapés Novo Recreio e Jesumira, são sagrados. Outros lugares sagrados na Terra Indígena são os cemitérios e antigas malocas. Os maiores cemitérios estão localizados nos igarapés Novo Recreio, Pijuca e Jersumira. Entretanto, existem sepulturas em várias localidades da Terra Indígena, pois os Nawa tinham o hábito de enterrar seus mortos nas proximidades das residências, principalmente quando se tratava de crianças. Contudo, não há entre os Nawa a identificação de sepulturas dos antigos, provavelmente porque entre os povos Pano os corpos eram cremados. De acordo com a Nawa Chica do Celso:
os caboclos que morriam, índios, eles não enterravam. Diz que eles pegavam ele, colocavam assim em um canto, deixava lá, fazia assim uma coivara assim por cima e iam chorar. Choravam muito, aquela zoada. Quando acabavam, tocavam fogo. Quando queimava aquela coivara, ficavam só aqueles ossos, do finado. Eles juntavam aqueles ossos, aquela cinza. Quando acabava colocava dentro de um vaso e eles iam fazer a bebida. Depois que estava feita aquela bebida, eles se embriagavam, com aquilo eles se embriagavam. Assim como os brancos bebem cachaça, essas coisas, do mesmo jeito era a bebida deles. Eles não enterravam (Chica do Celso, 2003, Moa).
Outros lugares tidos pelos Nawa como sagrados são as antigas malocas, as quais formam verdadeiros sítios arqueológicos que carecem de um estudo especializado. A sacralidade, associada aos antepassados, torna as áreas onde eles habitaram lugares extremamente respeitados, povoados pelos espíritos dos “antigos”. Diversos relatos de caçadores Nawa mencionam o encontro deles com seres sobrenaturais nessa região. A existência de antigas malocas na região da Terra Indígena, em especial naquela compreendida pelas cabeceiras dos igarapés Novo Recreio, Boca Tapada e Jesumira é de conhecimento de todos os Nawa e essencial para a manutenção da memória do grupo sobre o modo de vida de seus antepassados.

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