quinta-feira, 10 de julho de 2008

Biomonitoramento da mata do junco em capela sergipe

SCIENTIA PLENA VOL. 3, NUM. 5 2007
www.scientiaplena.org.br
142
Biomonitoramento através de indicadores ambientais
abióticos – Mata do Junco (Capela-SE)*
Mario J. S. Santos1; Heloísa T. R. de Souza1; Rosemeri M. e Souza2
1 Grupo de Pesquisa em Goecologia e Planejamento Territorial, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, São
Cristóvão-SE, Brasil
2Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Av. Marechal Rondon s/n, Sala
01/PRODEMA – GEOPLAN / UFS 49100 – São Cristóvão / SE / BR
geoplan@ufs.br
(Recebido em 31 de janeiro de 2007; aceito em 28 de setembro de 2007)
Tendo em vista a realização do Biomonitoramento da Mata do Junco (Capela-SE), segundo maior
remanescente de Mata Atlântica, a partir da proposição de indicadores ambientais abióticos para
avaliação dos estágios de regeneração natural da mesma, trabalhamos inicialmente com os seguintes
indicadores: Temperatura do ambiente, Temperatura do solo, Umidade, Pressão, Luz e Vento. Porquanto,
nos estágios sucessionais iniciais há forte influencia dos fatores abióticos, diminuindo sua intensidade á
medida que avança a sucessão. Estes indicadores são de suma importância para a caracterização
Geoambiental da Mata, apontando para formas de uso sustentáveis e ainda, contribuindo para a definição
do estatuto legal de preservação da área.
Palavras-chave: Abióticos Factors, Atlantic forest, Biomonitoramento.
In view of the accomplishment of the Biomonitoramento Junco of forest (Capela-SE)), according to
remaining greater of Atlantic Bush, from the proposal of abióticos ambient pointers for evaluation of the
periods of training of natural regeneration of the same one, we work initially with the following pointers:
Temperature of the environment, Temperature of the ground, Humidity, Pressure, Light and Wind.
Inasmuch as, in the initial sucessionais periods of training it has fort influences of the abióticos factors,
diminishing its intensity á measured that it advances the succession. These pointers are of utmost
importance for the Geoambiental characterization of Mata, pointing with respect to sustainable forms of
use and still, contributing for the definition of the legal statute of preservation of the area.
Keywords: Abióticos Factors, Atlantic forest, Biomonitoramento.
1. INTRODUÇÃO
Quando os portugueses aqui chegaram, a Mata Atlântica era uma exuberante barreira que se
erguia por todo o litoral brasileiro com 1.000.000 Km² de extensão, chegando a invadir o
interior do território. Hoje, resume-se a apenas 7% da mata original, tornando-se unidades
espaciais isoladas, sendo que, menos de 2% estão protegidos em unidades de conservação
oficiais. Nada menos que 11% da Mata Atlântica foi destruída nos últimos dez anos.(Almeida.
R.C. MATA ATLÂNTICA - PPMA – Mata Atlântica, 2001.).
No Nordeste, a partir da Bahia, a Mata Atlântica também se apresenta em forma de unidades
espaciais isoladas quando se direciona para o oeste, pontuando a caatinga até a fronteira do
Ceará com o Piauí.Ela era originalmente rica em espécies, tendo desempenhado no passado
importante papel na agroindústria açucareira no Nordeste, pois a madeira era usada como lenha
nos engenhos e no fabrico de embalagens para o açúcar. Apesar de sua história de devastação, a
Floresta Atlântica ainda possui remanescentes florestais de extrema beleza e importância que
contribuem para que o Brasil seja considerado o país de maior diversidade biológica do planeta,
sendo assim o principal motivo para a preservação da mesma.
A importância da preservação da Mata Atlântica não é somente por sua beleza cênica, mas
também para evitar que se afete a vida de grande parte da população brasileira, que vive na área
original desse ecossistema. Além de regular o fluxo dos recursos hídricos, ela é essencial para o
controle do clima e a estabilidade de escarpas e encostas. É também a conservação da maior
biodiversidade de árvores do planeta; 39% dos mamíferos que vivem na Mata Atlântica são
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nativos (vale para borboletas, répteis, anfíbios e aves) e mais de 15 espécies de primatas. A
destruição desse ecossistema leva espécies de animais brasileiros à ameaça de extinção, por
exemplo, das 202 espécies ameaçadas no Brasil, 171 são originários da Mata Atlântica.
Figura 1. MATA DO JUNCO – CAPELA – SERGIPE. Fonte: GEOPLAN/UFS, 2006.
A Mata do Junco por se tratar da segunda maior reserva de Mata Atlântica do Estado de
Sergipe, distante 86 km da capital, constituída de 1520 hectares, encontra-se uma variedade de
plantas e animais, sendo ainda o local da nascente do rio Lagartixo, afluente da Bacia do Rio
Japaratuba, que abastece a cidade e refúgio do macaco Guigó (Callicebus coimbrai) espécie
endêmica ameaçada de extinção.
A Mata do Junco é um fragmento constituído de manchas, que possuem estratos arbóreos
distintos, em virtude da diferença da ação antrópica em alguns transectos por conta da
exploração intensiva da madeira.
Essa floresta do tipo secundária, estudada na pesquisa de iniciação cientifica intitulada
Caracterização Fitogeográfica da Mata do Junco (Capela – SE), através dos fatores bióticos, não
pode classificá-la como uma floresta em clímax, uma vez que se trata de fragmentos com
estratos arbóreos e níveis de regeneração diferentes, sendo classificada como um remanescente
de Mata Atlântica sub-decidual, tipo ilhas (Rickless, 2004), o que acarreta uma variedade baixa
de espécies arbóreas provocada pelo isolamento desses fragmentos.
Nos ecossistemas florestais, as plantas crescem com as alternâncias climáticas que podem ser
favoráveis ou desfavoráveis. Por isso, é importante conhecer as relações existentes entre as
condições do clima e o crescimento das arvores, bem como o microclima dos habitats onde
estão desenvolvendo os vegetais.
A Mata do Junco por ser um remanescente de Mata Atlântica tem sido devastada em ritmo
inadmissível sendo classificada como fragmento florestal secundário de tal modo que são
capazes de abrigar espécies de fauna que necessitam de grandes territórios ou mesmo de
continuar a manter processos ecológicos básicos. Ex: Callicebus Coimbra (macaco guigó).
Tendo em vista esta problemática, além do desenvolvimento de práticas de manejo menos
impactantes para o sistema como um todo, torna-se premente a geração de indicadores
ambientais abióticos para o monitoramento da sua sustentabilidade ao longo do tempo.
A preservação das espécies endêmicas da Floresta Atlântica é extremamente preocupante,
face à situação atual de devastação. Mesmo as espécies endêmicas que ainda não possuem suas
populações reduzidas a um número crítico merecem atenção especial para
sobreviverem.(www.matlam.com.br, 2005).
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Para Porto (1999, p.55),
o fato de uma espécie vegetal conseguir apenas sobreviver em um
determinado ambiente não imprime a atividade um sucesso econômico,
podendo, no entanto, ser atribuída a essa área uma sustentabilidade ecológica
a depender do objetivo desejado e onde se pretender chegar”.(PORTO, 1999,
p.55)
Os benefícios diretos da existência de cobertura florestal verificam-se na proteção das
nascentes e rios, dos solos, morros e encostas, do ar, na presença da diversidade genética de
espécies de vegetais e animais, no equilíbrio ambiental e no bem-estar social, protegendo as
áreas rurais e urbanas, principalmente aquelas sujeitas a deslizamentos, promovendo assim a
harmonização e embelezamento das paisagens.
A Mata Atlântica compreende a região costeira do Brasil. Seu clima é equatorial ao norte e
quente temperado sempre úmida ao sul, tem temperaturas médias elevadas durante o ano todo e
não apenas no verão. A alta pluviosidade nessa região deve-se à barreira que a serra constitui
para os ventos que sopram do mar. Seu solo é pobre e a topografia é bastante acidentada. No
interior da mata, devido à densidade da vegetação, a luz é reduzida.
As condições físicas na floresta atlântica variam muito, dependendo do local estudado,
assim, apesar de a região estar submetida a um clima geral, há microclimas muitos diversos e
que variam de cima para baixo nos diversos estratos. Os teores de oxigênio, luz, umidade e
temperatura são bem diferentes dependendo da camada considerada. (SOS Mata Atlântica,
2003).
Índices abióticos têm sido uma importante ferramenta em estudos de monitoramento de
condições ecológicas, em geral considerando a composição taxonômica e dominância de alguns
grupos tolerantes a poluição.
Indicadores adequados podem auxiliar no estabelecimento de agendas mínimas de
negociação de conflitos ao facilitar a compreensão de aspectos complexos do quadro
socioambiental de uma área, assim como a mobilização de segmentos sociais distintos, para os
quais tais indicadores assumem importância diferenciada. (MELO E SOUZA, 2003).
De acordo com MELO E SOUZA(2003), os resultados do monitoramento ambiental devem
servir para orientar ações conjuntas – comunidades e gestores – rumo a uma gestão ambiental
emancipatória e efetivamente participativa no arcabouço do desenvolvimento local sustentável.
A distribuição e a abundância das espécies dependem essencialmente de fatores ambientais
como temperatura, luminosidade, umidade, disponibilidade de nutrientes e acidez do solo. Mas
enquanto as variáveis abióticas moldam as características básicas das comunidades e criam os
principais conjuntos florísticos do planeta (biomas), muitos mecanismos e processos que
ocorrem nos ecossistemas resultam de interações entre espécies, ou seja, de variáveis bióticas.
(BEGON et. ALLI, 1996; STILING, 2002).
A Floresta Atlântica guarda, apesar de séculos de destruição, a maior biodiversidade por
hectare entre as florestas tropicais. Isso é devido a sua distribuição em condições climáticas e
em altitudes variáveis, favorecendo a diversificação de espécies que estão adaptadas às
diferentes condições topográficas de solo e umidade.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para o monitoramento ambiental da Mata do Junco foram realizados levantamentos
bibliográficos que forneceram conhecimentos e uma fundamentação teórica sobre assuntos
correlatos ao projeto tais como: indicadores, sustentabilidade ambiental, biomonitoramento,
fragmentações florestais, dinâmicas e estrutura de espécies florísticos e faunísticas, relação
clima/solo/vegetação/fauna, sucessão vegetal entre outros.
A pesquisa bibliográfica foi realizada na Biblioteca Central da UFS, na biblioteca setorial do
Núcleo de Estudos do Semi-Árido (NESA), em artigos pesquisados na Internet, além de obras
do acervo bibliográfico da orientadora da pesquisa.
Foi também nessa fase que teve seqüência a sistematização, tratamento estatístico e
integração das informações disponíveis a respeito do bioma Mata Atlântica, e da Mata do Junco
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através da pesquisa de iniciação cientifica intitulada Caracterização Fitogeográfica da Mata do
Junco (Capela – SE) iniciada em 2005, na mesma área que apresentou os indicadores bióticos da
área estudada.
Foram realizados três trabalhos de campo nesta primeira etapa da pesquisa: Nos dois
primeiros trabalhos de campo foram feitos os reconhecimentos da área de estudo, e delimitação
das duas sub-áreas (previamente selecionadas nos estudos passados) onde foram realizadas as
coletas e análises. Essas áreas foram definidas como as mais importantes segundo os seguintes
parâmetros: - riqueza de espécies, - hotspots (área de alta diversidade biológica e sob alta
pressão antrópica), -grau de conservação, e espécies de interesse econômico.
Esses dois transectos (parcelas em gradiente longitudinal das áreas) em que dividimos a Mata
do Junco foram estabelecidos na dimensão de 50 X 50 m demarcadas com o uso da fita métrica
e estacas segundo a metodologia de Schâffer (MELO E SOUZA, 2003).
Em cada uma das parcelas foram analisados os indicadores ambientais abióticos propostos
que foram à temperatura tanto do solo quanto à do ambiente, a umidade, a pressão, e o vento da
Mata do Junco, no intervalo de 10 em 10 minutos, pelo período da manhã, pois estes
indicadores são de suma importância para a avaliação dos estágios de regeneração
fitogeográfica em que a mesma encontra-se.
Para atingirmos o objetivo da pesquisa e aferir a temperatura média da Mata como um todo,
analisamos também a Temperatura ambiente, a umidade, a pressão e o vento da área externa, ou
seja, nas bordas da Mata do Junco, simultaneamente as parcelas internas, pois é justamente no
entorno da Mata onde se localizam as áreas de maior fragilidade e menor regeneração natural
haja vista a intensa ação antrópica existente no local.
Em cada um dos transectos e também nas duas áreas externas, simultaneamente, verificou-se
a Temperatura ambiente, a umidade, a pressão e o vento com o auxilio da mini-estação
meteorológica portátil (Weather Station), sendo que, em virtude da ventilação ser quase zero na
Mata do Junco, o anemógrafo (aparelho de medição dos ventos) da mini-estação portátil, não
registrou a velocidade do vento, por isso a anulação do registro dos mesmos na Mata.
No terceiro trabalho de campo, verificamos a temperatura local com o termômetro de ar e
solo, em dois pontos distintos em cada parcela, onde foram feitas duas medições, sendo a
primeira para a verificação da temperatura do solo a uma profundidade de 20 cm. A segunda
medição da temperatura foi feita para o ambiente a fim de obter-se a variação térmica local mais
precisa de cada transecto.
Todos os dados foram devidamente anotados nas tabelas e sistematizados na sala de pesquisa
do grupo GEOPLAN – Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial na
Universidade Federal de Sergipe. O uso de luxímetro em intervalos de 15 em 15 minutos
durante a ida a campo, ficou impossibilitado uma vez que, a luminosidade da Mata do Junco é
inferior a mínima exigida para o funcionamento do Luxímetro. Outro procedimento foi a
comparação dos indicadores bióticos (analisados no primeiro ano de pesquisa, Agosto de 2005 a
Julho de 2006) e dos abióticos levantados na Mata do Junco com os indicadores gerais dos
remanescentes de Mata Atlântica.
Estes indicadores, presentes em maior ou em menor intensidade, delimitam os diferentes
estágios de regeneração da Mata Atlântica.
Observou-se o nível de manejo da Mata do Junco e as condições de regeneração natural da
mesma nos vários transectos através de dados coletados e realizamos o registro dos trabalhos de
campo através de fotografias com câmeras digitais.
Os trabalhos de campo transcorreram nos meses de Outubro de 2006 a Dezembro de 2006, e
permitiram entender assim como visualizar as informações produzidas a partir do referencial
teórico, sendo complementados pelas discussões devidamente orientadas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As florestas têm influencia direta sobre o clima, provocando variações na temperatura do ar,
atuando e definindo as médias, máximas e mínimas, as diferenças entre as temperaturas
máximas e mínimas diárias, mensais, e nos diferentes períodos do ano, influencia diretamente
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na umidade relativa do ar e, principalmente na evapotranspiração e na transpiração dos seres
vivos. Reduzem a velocidade dos ventos, favorecendo a recreação ao ar livre e proporcionando
um perfeito intercâmbio entre o ar puro e poluído.
As informações climáticas obtidas no interior da Mata do Junco, apontam que a temperatura
do ar diária, é inferior àquela obtida fora do povoamento florestal (área externa).
QUADRO 01
ESTÁGIOS DE REGENERAÇÃO DAS MATAS SECUNDÁRIAS
ESTÁGIO INICIAL ESTÁGIO MÉDIO ESTÁGIO AVANÇADO
Fi Fisionomia herbáceo /
arbustiva de porte baixo; altura
média inferior a 6m , com
cobertura vegetal variando de
fechada a aberta.
Fisionomia arbórea e/ou
arbustiva predominando sobre a
herbácea, podendo constituir
estratos diferenciados; a altura
média é de 6 a 15 m.
Fisionomia arbórea dominante
sobre as demais, formando Dossel
fechado e relativamente uniforme
no porte, podendo apresentar
árvores emergentes; a altura média
é superior a 15 m.
Espécies lenhosas com
distribuição diamétrica de
pequena amplitude, com DAP∗
médio inferior a 8 cm para todas
as formações florestais.
Cobertura arbórea variando de
aberta a fechada, com ocorrência
eventual de indivíduos
emergentes.
Distribuição diamétrica
apresentando amplitude
moderada, com DAP médio de 8
a 15 cm.
Espécies Emergentes ocorrendo
com diferentes graus de intensidade.
Distribuição diamétrica de
grande amplitude; DAP médio
superior a 15cm.
Copas superiores amplas horizon
-talmente. Extratos herbáceo, arbustivo
e um notadamente arbóreo.
Epifítas, se existentes, são
representadas por Liquens,
Briófitas e Pteridófitas, com
baixa diversidade.
Epifítas aparecendo com maior
número de indivíduos e espécies
em relação ao Estágio Inicial de
Regeneração.
Epifítas presentes em grande
número de espécies e com grande
abundância.
Trepadeiras, se presentes, são
geralmente herbáceas.
Trepadeiras, quando presentes,
são predominantemente lenhosas.
Trepadeiras geralmente lenhosas.
Serapilheira, quando existe,
forma camada fina pouco
decomposta, contínua ou não.
Serapilheira presente, variando
de espessura de acordo com as
estações do ano e a localização.
Serapilheira abundante.
Diversidade Biológica
variável, com poucas espécies
arbóreas, podendo apresentar
plântulas de espécies
características de outros estágios.
Diversidade Biológica
significativa.
Diversidade Biológica muito
grande devido à complexidade
natural.
Espécies Pioneiras abundantes. Podem ocorrer Espécies
Dominantes.
Ausência de Sub-bosque. Sub-bosque presente. Sub-bosque normalmente menos
expressivo do que no Estágio
Médio.
Florestas neste estágio podem
apresentar fisionomia semelhante à
vegetação primária diferenciada
pela intensidade do antropismo.
Fonte: (Resolução CONAMA no 31 de 07 de dezembro de 1994).
∗ DAP: Diâmetro a altura do peito do observador ( aproximadamente 1.30m)
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0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Arbórea Capoeirão Capoeira Capoerinha Capinzal
Luz
Vento
Temperatura
Minerais no solo
Umidade
Figura 2. Estágios Sucessionais da Vegetação e as Relações com Fatores Ecológicos
Abióticos. Fonte: PROCHNOW, Miriam; SCHÂFFER, Wigold B, 2002.
Nesse primeiro transecto na área externa, verificamos que as temperaturas aferidas cresciam
com relação ao tempo no intervalo de 10 em 10 minutos durante três horas no período matutino.
Ao contrário da umidade relativa do ar que decresce proporcionalmente. Enquanto que a pressão
atmosférica mantem-se relativamente constante durante toda a medição.(Gráfico 1)
Já na área interna dessa primeira parcela, podemos verificar temperaturas mais amenas e com
menores oscilações. Enquanto que há um acréscimo na umidade relativa do ar, mantendo
praticamente constante a pressão atmosférica.(Gráfico 2)
As diferenças maiores ocorrem durante os períodos mais quentes, e as temperaturas máximas
são mais afetadas do que as mínimas. Isso significa dizer que a amplitude de temperatura do ar é
menor nas florestas do que nas áreas de campo aberto, como podemos verificar nos gráficos
comparativos a seguir.(Gráficos 1, 2, 3)
A região das copas das árvores é muito mais ativa em relação aos aspectos climáticos, pois a
radiação é recebida e emitida, ocorrendo uma relativa circulação do vento naquela área, o que
causa um contraste entre o clima exterior e o interior da floresta, o qual é atenuado
constantemente pela convecção forçada. Por isso que o microclima no interior das copas é muito
instável, contrastando com o equilíbrio que ocorre na região do fuste.
Assim como no primeiro transecto, a temperatura externa dessa segunda parcela é superior a
área interna (Transecto 02) da Mata do Junco. Conseqüentemente, uma menor umidade relativa
do ar, e uma pouca oscilação da pressão atmosférica.(Gráfico 4)
A umidade relativa do ar apresenta comportamento bem mais simples quando comparado
com a temperatura. No entanto, existe uma estreita correlação entre essas duas variáveis.
A umidade relativa no interior da Mata é maior do que na área externa por causa da diferença
de temperatura e também porque a pressão do vapor d’água nas copas é suavemente mais
elevado, devido a evapotranspiração.(Gráfico 4)
Com isso, através da comparação observamos que, temperaturas mais elevadas (áreas
externas) possuem uma menor umidade. Porém a pressão atmosférica seja no interior da Mata
do Junco quanto nas áreas sem cobertura vegetal mantem-se praticamente constante.
No caso das temperaturas do solo, não houve uma variação significativa entre os dois pontos
da área 01 tanto no solo quanto no ambiente.(Quadro 2)
Já na área 02 houve uma variação entre a temperatura do solo e ambiente em decorrência da
copagem das árvores em virtude da altura das mesmas, mas não influencia no estágio de
regeneração, como já descrito na pesquisa anterior.(Quadro 2)
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25
28
31
34
37
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Temperatura AE 1
Temperatura AI 2
Gráfico 1: Relação Temperatura Área Externa 01 x Área Interna 01.- Transecto 01
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
10:15 10:25 10:35 10:45 10:55 11:05 11:15 11:25 11:35 11:45 11:55 12:05 12:15 12:25 12:35 12:45 12:55 13:05 13:15
Umidade AE 1
Umidade AI 1
Gráfico 2: Relação Umidade Área Externa 01 x Área Interna 01.- Transecto 01
997
998
999
1000
1001
1002
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Pressão AE 1
Pressão AI 1
Gráfico 3: Relação Pressão Área Externa 01 x Área Interna 01.- Transecto 01
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Temperatura AE 2
Temperatura AI 2
Gráfico 4: Relação Temperatura Área Externa 01 x Área Interna 01.- Transecto 02
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
10:15 10:25 10:35 10:45 10:55 11:05 11:15 11:25 11:35 11:45 11:55 12:05 12:15 12:25 12:35 12:45 12:55 13:05 13:15
Umidade AE 2
Umidade AI 2
Gráfico 5: Relação Umidade Área Externa 01 x Área Interna 01.- Transecto 02
1001
1002
1003
1004
10:15 10:25 10:35 10:45 10:55 11:05 11:15 11:25 11:35 11:45 11:55 12:05 12:15 12:25 12:35 12:45 12:55 13:05 13:15
Pressão AE 2
Pressão AI 2
Gráfico 6: Relação Pressão Área Externa 01 x Área Interna 01.- Transecto 02.
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QUADRO 2 - MATA DO JUNCO (CAPELA-SE)
LEVANTAMENTO DA TEMPERATURA DO SOLO
INDICADOR
AMBIENTAL
ABIÓTICO
ÁREA 01
ÁREA 02
Solo
Ponto 01
Solo
Ponto 02
Solo
Ponto 01
Solo
Ponto
02
Temperatura
25 ºC
25,1º C
24,5º C
26 ºC
Fonte: Trabalho de Campo, 2006.
Com relação à luminosidade, na Mata do Junco por ser inferior à mínima exigida para o
funcionamento do Luxímetro, não obtivemos resultados.
Sendo o segundo maior remanescente de Mata Atlântica do Estado, caracterizada densa,
tendo uma biodiversidade expressiva, com espécies de porte e diâmetro elevados, pois com
menor competição por espaço, nutrientes e luminosidade, espécies nobres e de valor comercial
crescem mais rápido na Mata do Junco e impossibilita a entrada mínima de ventos para a
medição pela estação meteorológica portátil (Weather Station) utilizada na pesquisa.
4. CONCLUSÃO
Atualmente, podemos constatar a respeito da composição das matas existentes, que
fragmentos isolados de Mata Atlântica, de diversos tamanhos e estágios sucessionais,
geralmente separados por áreas agrícolas, encontram-se, em geral, nos topos das elevações. A
diversidade e abundância da flora e fauna nesses fragmentos, caso da Mata do Junco, varia de
acordo com o seu estágio de desenvolvimento e preservação, sendo suposto que os fragmentos
de vegetação primária, provavelmente, não mais existem ou são raros.
Foi possível verificar na pesquisa do ano anterior que a Mata do Junco é um remanescente de
Mata Atlântica sub-desidual, apresentando fragmentos florísticos e níveis de regeneração
diferentes. Em boa medida, isto decorre da dominância do banco de plântulas, epífitos, lianas,
serapilheira, bem como da riqueza da composição florística e faunística encontrada nos dois
transectos analisados.
Os remanescentes são de fato, porções de matas secundárias (Mata do Junco) em distintos
estágios sucessionais, os quais podem ser designados como fragmentos em estágios avançados,
médio e inicial de regeneração, de acordo com os critérios adotados pela Resolução CONAMA
No 31/94, constante do Quadro 01 da metodologia.
Em virtude de serem duas áreas com composição de estratos diferenciados, foi possível
verificar que as condições climáticas no interior da Mata do Junco também são diferenciadas,
porém, com temperaturas mais amenas e umidade relativa do ar superior às áreas externas
estudadas, porém a pressão mantem-se praticamente constante nos dois transectos e nas áreas
externas analisadas.
Com esses indicadores abióticos estudados podemos comprovar que a Mata do Junco possui
níveis de regeneração natural diferente em seus fragmentos. Pois como aponta Garay, (2001,
p.101), os fatores abióticos (relacionados ao clima e ao solo) são importantes no processo de
sucessão vegetal, uma vez que, nos estágios sucessionais iniciais há forte influência dos fatores
abióticos, diminuindo sua intensidade a medida que avança a sucessão.
M. J. S. Santos; Heloísa T. R. de Souza; Rosemeri M. e Souza, Scientia Plena 3 (5):142-151 , 2007 151
* Trabalho apresentado no II Encontro de Pós-graduação da Universidade Federal de Sergipe
1. ALMEIDA.R.C. Mata Atlântica - PPMA – Mata Atlântica, Páginas da Rede Internet. Endereço
eletrônico http://www.ppma-br.org/mataatl.htm, 2001.
2. BEGON, M.;HARPER,J.L.E TOWNSEND,C.R. Ecology:individuals,populations and communities,
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