quarta-feira, 2 de julho de 2008

Consumo é vilão

Consumo é vilão ambiental, diz antropólogo
Para resolver o problema ambiental nº 1 do mundo, a receita do antropólogo Emilio Moran, 61, nascido em Cuba, mas morador dos Estados Unidos desde os 14 anos, chega a ser prosaica. "Temos que aprender a desligar a televisão. Ela é a principal ferramenta do consumismo", afirma o especialista em América Latina, que há mais 30 anos investiga o desenvolvimento humano da Amazônia brasileira.Apesar de a entrevista ter sido feita em um hotel a meio quarteirão da rua Oscar Freire (o palco das grandes grifes mundiais em São Paulo fora dos shoppings) o entrevistado, com orgulho, comenta: "Esta calça que estou usando eu comprei há 25 anos."Moran é um acadêmico tradicional e assiste televisão. Na Universidade de Indiana, ele dirige um centro que une a antropologia às mudanças climáticas globais - o agricultor amazônico, por exemplo, segundo uma pesquisa feita pelo grupo, não sabe se proteger contra o El Niño, porque ele não registra essas oscilações naturais ao longo do tempo.Pobreza amazônica - Se o modelo mundial de desenvolvimento, para o pesquisador, está errado, o da Amazônia idem. "Nos últimos 30 anos, o aumento do PIB da população amazônica subiu menos de 1%. Na região, quem ganha é quem já era rico em São Paulo e no Rio de Janeiro."O antropólogo, que chegou à floresta no início das obras da rodovia Transamazônica, diz que pouco mudou na região. "Não existe infra-estrutura para o pequeno agricultor. A estrada, por exemplo, não mudou muito, continua ruim. Existe ausência de governo na Amazônia com toda a certeza."Os grandes produtores, lembra o pesquisador, montam sua própria infra-estrutura e acabam fugindo do problema encontrado pelos menores."Falta compromisso com a indústria regional, que poderia valorizar os produtos amazônicos. Daria, por exemplo, para fazer uma fábrica de abacaxi enlatado, ou de suco". São várias opções disponíveis, diz Moran, que trabalha em áreas críticas, como Altamira (PA).A experiência acumulada no campo, inclusive nos recantos amazônicos, é que leva o antropólogo a afirmar: "O maior problema ambiental do mundo é o consumismo. O mercado ensina egoísmo e o indivíduo cada vez mais está centrado em si mesmo", afirma.Parte do caminho para sair dessa cilada ambiental, Moran apresenta no livro "Nós e a Natureza" (Editora Senac), lançado anteontem no Brasil. "É um livro mais apaixonado. Experimentei a sensação de ir além dos escritos acadêmicos", diz.Para reforçar seu ponto de vista, de que o modelo mundial é insustentável, Moran usa exemplos da classe média brasileira e da sociedade americana. Ambas ele conhece bem. No caso nacional, cita a história em que um filho de uma família de classe média do interior de São Paulo comentou com a mãe que eles eram pobres. O motivo era a ausência de uma televisão de plasma na sala, em comparação com a residência do vizinho.
"Subprime" ambiental - "No caso americano, a crise imobiliária é também um problema claro de consumismo", afirma Moran. "O americano, na média, está todo endividado. A maioria paga apenas os juros. Cada um tem uns US$ 20 mil em dívidas só no cartão de crédito". E isso, segundo ele, apenas para querer ter mais e mais. "No caso do mercado imobiliário, por exemplo, muitos fazem a segunda hipoteca (antes de quitar a primeira) para mudar para uma casa maior.Segundo o antropólogo, enquanto nos anos 1950 a casa de uma família média americana tinha uma vaga na garagem e 140 metros quadrados para seis pessoas, hoje ela tem espaço para três carros e 300 metros quadrados para quatro pessoas.E os carros, lembra Moran, queimam petróleo cada vez mais em maior quantidade, por causa do tamanho e da potência do motor. "Tenho feito o caminho inverso. Hoje, tenho um carro pequeno e de quatro cilindros", conta o cientista.Apesar de o quadro ambiental mundial ser dramático, o antropólogo afirma ser otimista e retrata isso em seu novo livro também. "Se não existir esperança, o melhor é pendurar as chuteiras e ir embora."Para Moran, é o consumidor individual o único que tem poder de ação de fato. "As pessoas podem chegar e dizer "não". Elas podem não consumir mais porque aquilo vai endividá-las e criar pressões (ambientais)".Além de ensinar os filhos a lerem com um olhar crítico os comerciais, todos deveriam olhar suas gavetas, seus armários, diz ele. "O importante é saber que não se está sozinho. Existem milhões de pessoas no mundo que já não aceitam esse modelo (de desenvolvimento) que nos levará ao colapso." (Fonte: Eduardo Geraque/ Folha Online)



Cientistas alertam para perigo de extinção de 50% das espécies
Entre 10 e 30% das espécies de mamíferos, aves e anfíbios estão atualmente ameaçadas de desaparecer e antes que esse século termine podem extinguir-se entre 25 e 50% das espécies terrestres.Essa é uma das conclusões a que chegaram os cientistas norte-americanos Harold Mooney e Peter Raven, considerados arquitetos da ciência da biodiversidade e ganhadores do Prêmio de Investigação Científica em Ecologia e Biologia da Fundação BBVA, que foi entregue nesta terça-feira (17).Os estudos de Mooney, professor da Universidade de Stanford, e Raven, presidente do Jardim Botânico de Missouri, foram chaves para entender de forma diferente a biodiversidade, já que seus trabalhos se centraram nos ecossistemas e nos serviços que esses prestam à sociedade.Em um encontro com a imprensa, Mooney disse que nos últimos 50 anos os serviços prestados pelos ecossistemas se degradaram em 60% e expressou sua preocupação pelo aumento desse processo nos últimos 25 anos.Ele advertiu ainda que a taxa de exploração dos recursos está se acelerando de tal forma que se pode chegar ao colapso de alguns deles, como, por exemplo, a água.Frente a essa situação, o professor Mooney disse que os governos têm que analisar o problema e avaliar o que tem que fazer a sociedade."Se não adotarmos ações agora e de forma rápida, será outro o mundo que temos", segundo Mooney, que lançou uma mensagem de tranqüilidade ao afirmar que "não digo que vá desaparecer."O problema da perda de biodiversidade se agrava com a mudança climática, um processo que "está ocorrendo a passos largos.""A pesar de todos os governos do mundo estarem de acordo que o problema é grave e vai mudar nossa forma de vida, ainda não sabemos o que devemos fazer", disse.O cientista norte-americano expressou sua confiança que no próximo mês de novembro se defina um novo acordo como o de Kioto tem termos de biodiversidade, no marco de uma reunião intergovernamental convocada pelas Nações Unidas.Esse acordo iria supor o estabelecimento de um instrumento similar ao Intergovernamental Pannel on Climate Change (Iuappa) para lutar contra a perda de biodiversidade. (Fonte: Estadão Online)

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