quinta-feira, 11 de junho de 2009

O sr. do labirinto

21/07/08, 10:04 - Governo
Filmagens de 'O Senhor do Labirinto' chegam ao fim em Sergipe
Foto: Jorge Henrique/ASN
Simone Aquino / Foto: Jorge Henrique/ASN
* Por Paloma Abdallah
Em 1989, a visita a uma exposição no Rio de Janeiro, onde a obra exposta era de autoria de um esquizofrênico. Catorze anos depois, um concurso de apoio ao Desenvolvimento de Roteiros Cinematográficos promovido pelo Ministério da Cultura e um dos roteiros inscritos trazia a vida e obra daquele artista. O resultado do concurso: a aprovação do roteiro. Nascia, assim, o projeto do longa-metragem ‘O Senhor do Labirinto', baseado no livro 'Arthur Bispo do Rosário - O Senhor do Labirinto', da jornalista Luciana Hidalgo.
O artista que fez com que Geraldo Motta inscrevesse um roteiro era o sergipano Arthur Bispo do Rosário. Nascido em Japaratuba, no interior sergipano, Bispo do Rosário mudou-se para o Rio de Janeiro em 1925, onde 13 anos depois foi diagnosticado um quadro de esquizofrenia. A partir de então, veio a internação na Colônia Juliano Moreira, onde ele produziu todas as suas ‘representações'. Essas ‘representações', como ele as denominava, foram feitas com sapatos velhos, linhas desfiadas dos seus uniformes, canecas, latas. Todas expostas no salão central da Colônia. Ele também foi responsável pela criação de um ponto inédito do bordado: a união do ‘correntinha' e da ‘caviado'.
"A obra dele é de uma contemporaneidade ímpar. O que ele estava produzindo dentro da Colônia, os artistas contemporâneos de ponta estavam produzindo. Só que esses artistas estavam dialogando com a tradição artística. O Bispo não! Ele estava de uma forma intuitiva fazendo o que todo mundo estava fazendo no novo movimento das artes plásticas. Isso é que é singular! Um homem solitário fazer o que todos almejavam fazer", disse Geraldo Motta, diretor do longa.
Com a aprovação do projeto, iniciou-se o processo de aprofundamento sobre a obra. Roteiro, atores, diretores precisavam ser escolhidos. Depois era preciso decidir em qual local seria filmado o longa. "Chegamos a Sergipe em agosto do ano passado para o processo de captação de recursos. Eu sabia que era preciso sensibilizar não só a parte governamental, mas a iniciativa privada. O desafio aqui era trazer um projeto que tivesse identidade com a região, ao mesmo tempo em que pudesse ter uma importância cultural e econômica", afirmou a produtora e representante da Tibet Filme, Eliza Tolomelli.
Parceiros
Um dos primeiros parceiros a incentivar que as filmagens fossem realizadas em Sergipe foi o Governo do Estado. Através do Programa de Apoio Cultural desenvolvido pelo Banese, foram investidos R$ 500 mil na produção do filme. Em outro convênio, através do Fundo Estadual de Patrocínio de Projetos de Comunicação Social, da Secretaria de Comunicação, o investimento chegou a R$ 270 mil.
"Eu faço cinema há muitos anos. Esse é meu 17º longa-metragem e sempre estamos associando o poder público à iniciativa privada. Mas durante todo este tempo vi pouquíssimos governos abraçarem tanto a causa do audiovisual quanto o Governo de Sergipe. Foram eles que primeiro disseram: ‘venham que nós vamos tocar juntos esse projeto'. E tem sido um grande parceiro. Eu tenho gostado muito da relação com eles, é um pessoal que tem visão muito boa, que não é acomodado, que está sempre querendo o melhor", relatou a produtora.
Além do Governo do Estado e do Banese, são parceiros do filme a Petrobras, a Fafen, a Prefeitura Municipal de Aracaju, a Prefeitura Municipal de Japaratuba, a Prefeitura Municipal de Laranjeiras, a Construtora Norcon, a Construtora Celi, a Fábrica de Cerâmica Escurial, Água Mineral Imperial, a empresa de telefonia Oi, o Grupo Maratá, a Unimed, o Grupo Constâncio Vieira e o Sebrae.
Oficinas
Em junho deste ano, as filmagens foram iniciadas no prédio do antigo Centro Psiquiátrico Garcia Moreno, localizado no município de Nossa Senhora do Socorro, na região da Grande Aracaju. O processo de capacitação da mão-de-obra local, no entanto, começou muito antes com as oficinas realizadas. "Fizemos várias oficinas que envolveram quase 700 pessoas, entre oficinas de ator, de assistente de direção, de figuração, de arte, de costura e de bordado. Muita gente entrou em contato com o universo não conhecia ou que conhecia e queria desenvolver", relatou Elisa.
Durante as gravações, 120 pessoas foram empregadas diretamente, sendo 90 sergipanas. Entre as pessoas empregadas esteve a bordadeira, Gilda Mathias. Moradora do município de Laranjeiras, Gilda participou o dinheiro que ela ganhou foi para pagar o curso de informática do seu filho. "Foi muito bom porque ganhei um dinheiro extra, que serviu para pagar o curso de computação do meu filho mais velho. Ele está no último ano do colégio e antes de começar a faculdade queria ter um curso de informática. Só consegui pagar por causa do filme", disse.
Gilda nunca entrou em uma sala de cinema. Provavelmente, sua primeira ida ao cinema seja na estréia do filme ‘O Senhor do Labirinto', marcada para o segundo semestre de 2009. "Quando me chamaram para participar, achava que era só para bordar, mas fiquei feliz em poder participar da filmagem também", disse Gilda, que foi figurante em uma das cenas do Bispo quando criança.
Finalização
As filmagens foram finalizadas na última sexta-feira, 18. Toda a reprodução da obra de Arthur Bispo do Rosário será doada ao Governo do Estado. Para a figurinista do filme, Simone Aquino, as vantagens vão muito além da doação das réplicas ou das oficinas.
"O que vai ficar para Sergipe é a vida de Arthur Bispo do Rosário. Desde que ele morreu, a obra dele foi para Europa, foi para o mundo intelectualizado, para o mundo cult. Depois trouxemos Arthur Bispo para a raiz e reproduzimos a história para voltar ao mundo com a nossa visão sergipana e brasileira. Trazer a arte de Bispo do Rosário para Sergipe é desvendar vários códigos na obra dele que nós não desvendávamos. Foi conhecendo a cultura dele, de onde ele veio que a gente consegue entender melhor toda a criação", afirmou Simone.

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