segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Ser humano e a questão ambiental

Sobre Humanos e Humanidadepor Francisco A. Romanelli

Temos como uma das definições do termo humano um agregado moral que enaltece as qualidades nobres do indivíduo: bondade, caridade, grandeza de alma etc. Segundo o Houaiss eletrônico, “que mostra piedade, indulgência, compreensão para com outra(s) pessoa(s)”. No mesmo dicionário a etimologia apontada é “lat. humánus,a,um 'próprio do homem, bondoso, erudito, instruído nas humanidades'”.
Pela lógica caolha do humor típico das comunidades de internautas, se ser humano é ser bondoso logo o Ser Humano é bondoso. Certo? Infelizmente, não. Essa talvez seja uma das máximas menos adequadas a qualificar essa espécie de mamífero que adquiriu capacidades tecnológicas, se expandiu, adaptou-se, habitou e dominou todo o planeta.
A toda poderosa espécie humana, que se diz criação direta das mãos da Divindade Suprema, e se gaba de ser representação material da imagem e semelhança do Criador, é também a única que se diverte pela perversidade. De todas as espécies vivas que habitam o planeta, e que os cientistas estimam em cerca de dez ou quinze milhões, uma única goza e se compraz no sofrimento de outras e de outrem de sua própria espécie. Infelizmente, fala-se aqui da espécie humana. De cérebro capaz de elaborar questões metafísicas da mais alta indagação, processar cálculos de extrema complexidade e de engendrar e construir parafernálias tecnológicas de altíssima precisão e complexos arquitetônicos de assustadora grandiosidade, o indivíduo da espécie humana sente prazer em provocar e presenciar dor.
Para que houvesse equilíbrio no desenvolvimento da vida no planeta, a Criação, em sabedoria quase didática, adotou um mecanismo de controle rígido conhecido por predação. Todos os seres vivos que compõem o sistema natural do planeta Terra são predadores. Isso significa que há um processo natural de seleção através do desenvolvimento da chamada cadeia trófica, isto é, ainda nas palavras do Houaiss eletrônico, “forma esquemática us. para representar a transferência de energia ou as relações alimentares, em parte de uma comunidade ou ecossistema, através de uma série em que os seres vivos se alimentam e servem de alimento para outros seres vivos”. Nesse processo, a crueldade inerente ao indivíduo de qualquer espécie tem como característica a utilidade. O impulso de sobrevivência está diretamente ligado à predação de indivíduos de outra espécie que, por solução da própria natureza, passaram a compor a cadeia alimentar do predador.
O mecanismo natural é simples e eficaz, embora muitas vezes reputado de cruel. Propicia a manutenção da vida, o controle da quantidade de indivíduos, a sobrevivência dos mais aptos e o desenvolvimento do processo de seleção natural.
Fora desse sistema, os animais sempre nos surpreendem com atos de verdadeira caridade, sem discriminar espécies. Exemplo recente, fartamente explorado pelas mídias, é o da cadelinha que salvou um recém nascido humano. O ser humano, no entanto, quebrou a regra natural. Privilegiado com a evolução de cérebro dotado de maior capacidade de processamento de dados, aprendeu a burlar os mecanismos naturais de existência e aumentou suas possibilidades de sobrevivência. Graças a seu processo mental pôde se adaptar às mais variadas e adversas condições do ambiente.
Esse mesmo mecanismo cerebral de extrema complexidade e altíssima capacidade de elaboração acabou por solidificar processos psicológicos intrincados e enigmáticos. Um deles é a gratificação psicológica que o humano sente em presenciar ou provocar a dor em outros seres vivos. Nem Freud explicaria. E se explicasse, não se justificaria. As crueldades gozosas enfocam não só a própria espécie – vejam-se exemplos de esportes violentos, como os de luta – mas as demais espécies naturais, principalmente animais. Nem é preciso apontar exemplos, que abundantes eles são: maltratos em rodeios, circos, zoológicos, rinhas de galo, caçadas, adestramento etc. Isso sem falar em queimadas, poluição generalizada, extração comercial inescrupulosa de riquezas etc.
Para confirmação basta acessar as páginas www.renctas.org.br e www.pea.org.br . Mostram o trabalho de duas instituições brasileiras sérias que combatem, respectivamente, o tráfico de animais silvestres e a crueldade contra animais.
O certo é que a espécie humana precisa reformular seus conceitos sobre humanidade. Ou nós usamos esse maravilhoso cérebro que nos diferencia dos demais seres vivos do planeta para aprimoramento de nossas relações harmoniosas entre os seres da própria espécie e entre seres humanos e outras espécies vivas ou então devemos rever e reescrever em nossos dicionários algumas das acepções ligadas às palavras humano e humanidade.

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