Capela
Posted by: Antonio Carlos Lima In: Sergipe
Capela, a rainha dos tabuleiros. Um dos berços da cultura de Sergipe, o município já foi dos mais importantes do Estado.
A história de Capela, a 67 quilômetros de Aracaju, é, sem dúvida alguma, uma das mais belas. Aquele município já foi um pólo de desenvolvimento e de cultura do Estado, mas nos últimos anos amarga estagnação. Capela nasceu por volta de 1735 quando Luiz de Andrade Pacheco e sua mulher, Perpétua de Matos França, doaram parte de suas terras localizadas no Tabuleiro da Cruz e mais 100 mil réis para que uma capela fosse construída.
Os proprietários tinham duas motivações: o sacrifício da missa - era mesmo um sacrifício porque eles eram obrigados a se deslocar por dez léguas para a matriz de Pé do Banco (hoje Siriri). O outro é que o filho do casal era padre e os pais queriam lhe entregar uma bela igreja. Da casa de Pacheco foram levados para a capelinha erguida a imagem de Nossa Senhora da Purificação e uma arca com todos os paramentos para a missa.
Em volta da capela e do cruzeiro erguidos surgiram as primeiras casas em terrenos doados por Luiz Pacheco. No hino de Capela se informa que o município surgiu da mesma forma que o Brasil nasceu: “da cruz simbólica de Cristo”. Acredita-se que as missas e frequentes festas religiosas atraíram colonos que ali levantavam suas casas em definitivo. Historiadores acreditam que por volta de 1808, nos arredores da capelinha de Nossa Senhora da Purificação viviam cerca de 4 mil pessoas.
Freguesia e vila
Padre e população fixa levaram a povoação a virar a freguesia de Nossa Senhora da Purificação da Capela em 9 de fevereiro de 1813, sendo desmembrada da matriz de Pé do Banco. O crescimento populacional e econômico era tanto naquelas terras que em 19 de fevereiro de 1835 ela foi transformada em vila, sendo desmembrada da de Santo Amaro. O seu primeiro padre, oficialmente, foi o filho da terra Gratuliano José da Silva Porto.
O que mais chamava atenção naquela nova vila era o seu poder econômico. O município tinha mais de uma centena de engenhos. A cultura da cana, o fabrico do açúcar e o plantio do algodão e da mandioca formavam a riqueza. Um dado curioso é que antes mesmo de se transformar em cidade, ainda em 1861, foi criada a Comarca de Justiça. Em 1863 toma posse o primeiro juiz, Manoel Maria do Amaral, e o primeiro promotor de Justiça José Luiz de Coelho e Campos. Em 1864 a população escrava na vila chegava a 2.664.
Em 1870 é construído o mercado e em 28 de agosto de 1888 o município se torna cidade e passa a ser chamada apenas de Capela. Em 21 de novembro de 1898 a Câmara de Vereadores manifesta apoio à Proclamação da República, mas a ordem era fechá-la. Em 23 de dezembro todos os vereadores são afastados e é criado o Conselho de Intendência. José Nunes Sobral Leite era o intendente, e Thomaz Rodrigues da Cruz, José Luiz Coelho e Campos, José Moreira de Magalhães e Júlio Flávio Accioly, os membros.
Forte desenvolvimento
Na década de 50, Capela chega a ter uma produção agrícola que ultrapassava os 80 milhões de cruzeiros, sendo que a cana-de-açúcar era o carro-chefe. No que se refere à indústria, merecem destaque quatro usinas: Santa Clara, Vassouras, Proveito e Pedras, superando a cifra de 46 bilhões de cruzeiros. Ainda existiam uma destilaria de álcool e seis alambiques, compondo 94 unidades industriais. O nível de desenvolvimento era tanto que a três quilômetros da sede do município existia um campo de pouso só para atender aviões teco-teco.
No recenseamento de 1950 a população de Capela chegava a 20 mil habitantes. Os edifícios mais importantes da cidade na década de 50 eram a prefeitura, o Cine-Teatro Capela, o mercado, o Hospital São Pedro, os Correios e Telégrafos, o Banco do Brasil, o Grupo Escolar Coelho e Campos e o Ginásio Imaculada Conceição. Além do telégrafo e da linha de trem, existiam no município quatro aparelhos telefônicos ligados ao Centro Telefônico de Aracaju.
Vale lembrar ainda que o município sempre teve a Sociedade Beneficente União dos Artistas e a Caixa de Beneficência da Irmandade de Nossa Senhora do Amparo. As duas cuidavam das pessoas mais necessitadas de Capela. O município também tinha duas grandes bibliotecas particulares, mas que eram abertas ao público: a Doutor Adolfo Vieira Matos, mantida pelo Rio Branco Atlético Clube; e a Casa do Livro, que tinha 6 mil livros. Outra instituição que merece destaque foi o Coral Genaro Plech. Tinha 145 associados e uma grande discoteca.
Outras datas marcantes
1824 - A capelinha que deu origem ao município foi destruída1882 - Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara1901 - Construção da igreja de Senhor dos Aflitos1914 - Fundação da primeira usina de açúcar1918 - Fundação do Rio Branco Esporte Clube1918 - Fundação do Grupo Escolar Coelho e Campos1921 - Criação da Sociedade Cultural Casa do Livro1929 - Fundação do Colégio Imaculada Conceição1935 - Inauguração da “Águia” como marco do município1939 - Criação da Festa do Mastro1968 - Capela foi sede do Governo do Estado durante 3 dias
Lampião em Capela
Lampião esteve em Capela por duas vezes. Na primeira, em 24 de outubro de 1929, mandou chamar o prefeito Antão Correia de Andrade para que entrasse na cidade com ele. Virgulino passou no telégrafo e depois foi ao Cine-Teatro Capela. Filme mudo e orquestra tocando. Depois que Lampião entrou, as luzes se acenderam e o povo começou a querer sair. “Daqui ninguém sai e quem correr vê o gosto da bala atrás”, teria dito Lampião. O juiz correu, conseguiu pular o muro e se escondeu num convento.
O filme era Anjos das Ruas, de Janet Gaynor. Lampião mandou que a luz fosse apagada e que o filme continuasse. Disse ao jornalista Zózimo Lima que nenhuma notícia dele era para ser dada. Lampião não gostou do filme e saiu. Ele teria pedido ao prefeito 20 mil contos de réis, mas Antão só tinha 5 e ele aceitou.
Em seguida, Lampião e o bando foram a uma pensão e lá almoçaram. A turma foi para a Estação de Trem à espera de soldados que vinham da Bahia. Mas nada de soldados. Depois de receber o dinheiro, de fazer algumas compras e pagar e de ganhar um livro sobre a vida de Jesus, Lampião reuniu o bando e foi embora.
Em outubro de 1931, Lampião e o bando voltam a Capela. Fazem alguns reféns nas fazendas e manda o irmão do vigário informar que entraria de novo na cidade. O recado foi dado, mas desta vez um grande grupo de moradores (inclusive mulheres) se organizou, armou-se e ficou escondido nas torres da igreja. Lampião achou demorado o recado, entra na cidade e é recebido com chumbo.
Fazendo referência aos tiros que vinham das torres da igreja de Nossa Senhora da Purificação, Lampião teria dito: “Vamos embora que nesta cidade até os santos atiram”. Virgulino ficou nos arredores da cidade e teria praticado uma série de crimes. O Jornal da Tarde, de São Paulo, em 30 de julho de 1973, conta as histórias de Lampião em Capela.
Algumas lendas e a festa do mastro
Em Capela existe uma série de lendas, muitas festas folclóricas e a principal Festa do Mastro:
Lenda da Bica - Os índios das tribos Tupã e Tupinambá eram inimigos. O cacique dos Tupã tinha uma linda filha, Bica, que se apaixonou pelo filho do cacique Tupinambá, o Beca. Um amor proibido, impossível. Um dia, os dois jovens índios foram flagrados pelo pai de Bica. Beca e Bica foram mortos e no lugar onde isso aconteceu nasceram minadores de água límpida. Acredita-se que a água sejam as lágrimas dos índios assassinados.
Lenda da Igreja do Amparo - Acredita-se que do Cruzeiro até os fundos da Igreja Nossa Senhora do Amparo, à meia-noite, se alguém colocar o ouvido no chão ouve barulho forte de água corrente. Uns acreditam ser uma “perna” do Rio São Francisco.
Festa do Mastro - Ela surgiu em 1939 por iniciativa de João Nelson de Melo. No dia 29 de junho, junto com seus irmãos e amigos, fez uma festa simples na Rua da Palmeira. Os anos passavam e a festa crescia. No noite de 31 de maio, o grupo folclórico da Sarandaia sai pelas ruas para acordar São João e pedem prêmios para serem pendurados num mastro que será arrancado na festa de São Pedro. No dia 28 de junho um homem vestido de baiana também sai pelas ruas pedindo prêmios para colocar no mastro. No dia 29, pela manhã, a multidão sai para a mata atrás de uma grande árvore. A madeira é cortada e levada num cortejo para a cidade. A lama é ingrediente básico da festa. À noite tem a queima do mastro, que tomba e os prêmios são coletados. Nesse momento tem o Grito da Vitória e a guerra de busca-pés.
Algumas personalidades que marcaram a história
A seguir alguns filhos ou não que marcaram a história do município de Capela:
Adroaldo Campos (Dudu da Capela) - Foi um dos maiores advogados de Capela;Antão Correia de Andrade - Fundou o jornal “A Voz da Capela” e a Casa do Livro;Augusto Ribeiro - Proprietário de uma fábrica de sabão. Foi dono do primeiro posto de gasolina; Cônego José da Mota Cabral - Foi vigário de Capela durante 50 anos;Dioclécio Gomes de Andrade - Grande comerciante de tecidos;Edélzio Vieira de Melo - Médico, professor, líder político, prefeito, deputado estadual e vice-governador;Francisco Alves de Carvalho Júnior (mestre Francisquinho) - Fundador da Filarmônica “Lira Nossa Senhora da Purificação”;Francisco Vieira de Andrade - Juiz de Direito durante 25 anos e dono da primeira usina de açúcar do município, a Proveito;Honorino Leal - Juiz de Paz. Foi Agente da Borracha e delegado de polícia;Major da Guarda Nacional - Vereador e intendente. Foi deputado estadual por seis legislaturas; José Cabral Neto - Promotor de Justiça e fundador da Fábrica de Sabão Caçote;José Luiz Coelho e Campos - Primeiro promotor público de Capela. Foi deputado federal e senador. Quando ocupava o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal conseguiu levar para Capela a estrada de ferro. Doou o prédio de sua residência para ser transformado numa escola, que recebeu seu nome;Manoel Raimundo de Melo - Ordenou-se sacerdote e foi vigário de Itabaiana;Comendador Manoel de Souza Campos - Comerciante e banqueiro. Foi agraciado pelo Imperador Pedro II, com o oficialato da Ordem da Rosa e com a Comenda da Ordem de Cristo, por ter libertado todos os seus escravos.E mais: Irmã Maria Clemência da Costa Lima, Juarez de Oliveira Leal, Moacyr Carvalho, Manoel Cardoso Souza, Manoel Gomes Moura, Maria da Glória da Mota Cabral, Maria de Jesus Almeida, Maria Rosa de Jesus Mota, Mestre Olívio, Monsenhor Eraldo Barbosa, Odilon Ferreira Machado, Otaviano da Mota Cabral, Otávio Teles de Almeida, Raul Dantas Vieira, Ariovaldo Barreto, Carlos Figueiredo Cabral, Flora Souza, Floriano Rocha, Arimatéia Rosa, entre outros.
Capela hoje
Está no território leste de sergipano - No norte de Sergipe e fica a - 67 km da Capital Aracaju. População - Cerca de 30 mil Atividade econômica - Agricultura, comércio e exploração mineral.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
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Um comentário:
Moro em campo grande ms. e estou a procura de parentes que moravam entre capela e muribeca, trabalhadores da usina santa clara,Sr. Pedro Ribeiro de Almeida irmão de Maria Jose de Almeida filhos de maria da Invenção da Santa cruz e Jose Carlos de Almeida se poderem me passar alguma informação
e-mail: maraglora@bol.com.br
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