sábado, 12 de setembro de 2009

Matéria sobre meio ambiente em aracaju

Técnica de Produção, Reportagem e Redação Jornalística
“No sítio das águas a cidade dos aterros”
Publicado em Cidade, Ciência e Tecnologia, Cultura, História por micheletavares em 27 27UTC Maio 27UTC 2009
Por Allana Andrade (allanarafaela@gmail.com ) eNikos Elefthérios (nikos.grego@gmail.com)

Professora Maria Augusta Mundim Vargas. Foto: Allana Andrade
Após assistir uma palestra com a professora sobre a relação do homem com a natureza e seu entendimento com a mesma, acrescentando a preocupação com o meio ambiente e a crescente expansão de Aracaju, nos sentimos motivados a compartilhar e aprofundar esse tema, com um enfoque diferenciado, tocando em pontos pouco abordados como a falta de conhecimento da área que foi aterrada em nossa capital e a interferência da construção de barragens na água do rio São Francisco, no trecho que passa pelo estado de Sergipe.
Para tanto, a equipe do Em Pauta UFS entrevistou Maria Augusta Mundim Vargas (*), professora voluntária do Departamento de Geografia e dos Núcleos de Pós-Graduação em Geografia (NPGEO) e de Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), que além dessas questões discorreu sobre o meio ambiente no litoral sergipano, a revitalização do Baixo São Francisco, além de temas como: sociedade, cultura e desenvolvimento urbano em Sergipe.
Em Pauta UFS: Como e quando a senhora iniciou seu trabalho com o meio ambiente?
Maria Augusta Mundim Vargas: Eu trabalho com meio ambiente desde a década de 70. Em órgãos de meio ambiente desde 1975, numa época em que pouco se falava ou quase não se falava em meio ambiente. Foi logo depois da “Estocolmo 72”. Mas a preocupação era conhecer, fazer o diagnóstico do meio ambiente, [...], nesta época eu morava em Minas Gerais. Quando mudei para Sergipe, na década de 80, comecei a trabalhar desenvolvendo pesquisas na Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA), órgão recém criado em Sergipe, com a função de organizar a relação do poder executivo estadual com o meio ambiente.
Em Pauta UFS: Quais as principais pesquisas realizadas com a sua colaboração na ADEMA?
Maria Augusta: Na ADEMA realizamos dois grandes trabalhos. O primeiro, foi o “Zoneamento Ecológico do Estado”, que considero um marco para Sergipe. E o outro, foi um estudo muito completo dos manguezais, do caranguejo-uçá (que é uns dos produtos mais importantes da região, que está incorporado na alimentação e cultura dos sergipanos) e sobre os caranguejeiros. Tiveram outros estudos, sobre a desertificação, resíduos de lixo no município, mas acho esses dois os mais importantes.
Em Pauta UFS: Quando a senhora resolveu voltar para a academia?
Maria Augusta: Enquanto trabalhava na ADEMA pesquisando, senti uma necessidade muito forte de continuar a minha formação. Eu sentia “sede” da academia. Foi quando comecei a fazer mestrado na UFS, sendo inclusive da primeira turma do curso de mestrado que a universidade criou. “A natureza das políticas no sertão sergipano”, foi o tema. Colocando na natureza das políticas, um duplo sentido, o da natureza das políticas e das políticas agindo sobre a natureza. Uma vez na academia, não quis mais sair, então fiz uma opção de vida e larguei o trabalho como técnica na ADEMA optando por ser professora de graduação e mestrado na UFS, dando aulas em disciplinas ligadas à natureza como: Planejamento Ambiental, Biogeografia, Leituras de Cartas, além do tema de mestrado. Meu doutorado foi iniciado na França, com o professor Ignacy Sachs, um estudioso que apresentou trabalhos sobre eco-desenvolvimento e desenvolvimento sustentável tanto na “Estocolmo 72” quanto na “ECO-92”, porém foi concluído em Rio Claro (São Paulo), novamente com um tema ligado à natureza. Dessa vez estudei todo o Baixo São Francisco, focando na vida das pessoas que moram na região ribeirinha, a forma como viam as mudanças realizadas nele, de que maneira absorviam as políticas que alteravam o meio ambiente, além do papel da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) neste trecho.
Em Pauta UFS: Você e outros pesquisadores criaram um mestrado interinstitucional. Como é esse projeto?
Maria Augusta: Após terminar o doutorado, eu, o professor Rodrigo Ramalho, de Alagoas e a professora Vania Fonseca, começamos a discutir a criação de um mestrado em desenvolvimento relacionado ao meio ambiente, mas queríamos fazer um projeto diferente, que agregasse outras instituições. Era um mestrado interinstitucional e regional onde o que se lecionasse aqui na UFS fosse ensinado, por exemplo, na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). A palestra que vocês assistiram era a aula inaugural das turmas de mestrado que ensinei no período entre 1995 e 2007. Nesta aula eu desconstruía o conceito de natureza. Porque a natureza é natural, mas o conceito dela é algo construído culturalmente. No mestrado, mostrava que cada pessoa podia contribuir para uma mudança, de postura, de ação, de mudança de costume. A visão romântica da natureza, por exemplo, é a de pessoas que não possuem respeito pela natureza, que estão longe dela, que ficam idealizando. No caso das oficinas, eu faço tanto para crianças de 5ª série como para adultos, estive em Goiânia recentemente e apresentei essa palestra no mestrado, porque acho importante a gente quebrar, desconstruir esse conceito.
Em Pauta UFS: Qual é a relação dos sergipanos com o meio ambiente?
Maria Augusta: Essa relação entre sergipanos com Sergipe, não é diferente da dos paulistas com São Paulo, ou em outros estados. Vou fazer um panorama geral sobre esse assunto. Essa relação mantém-se na utilização da natureza como um recurso, mas um recurso de exploração, que vem fazendo com que espécies desapareçam, além de sua utilização para a geração de lucros. O que difere uma região da outra é uma tomada maior ou menor de conscientização e normatização dos meios. Tomamos como exemplo movimentos de artistas ou a opinião de pessoas da área, como nas reportagens que vi, há alguns dias, em que artistas levaram para o congresso um número grande de assinaturas para que seja barrada a ocupação da Amazônia, utilizem-na de forma sustentável e que empresas internacionais parem de explorar madeira de qualquer forma e passem para a exploração sustentável. Além disso, a verba destinada a secretarias como da cultura e do meio ambiente (em Aracaju não existe a de meio ambiente) é inferior àquelas recebidas por outras secretarias, gerando um problema, pois necessita de muito investimento para os projetos.
Em Pauta UFS: E na cidade de Aracaju como se dá essa relação?
Maria Augusta: Aracaju foi uma cidade planejada entre rios, por causa do porto, em uma área com água em abundância. Localizada à beira do rio Sergipe e tendo como limite sul o rio Vaza Barris, com um emaranhado de canais ao redor, um cenário típico de estuário tropical. Nessa época a idéia do racionalismo, do progresso, que o meio ambiente deveria ser “vencido pela técnica” era o que predominava. Surgiu então, a idéia da técnica vencer através do aterro e começaram a aterrar. Eu digo que “no sítio das águas a cidade dos aterros”, pois a cidade foi criada a partir de aterros. Nós temos

A Orla de Atalaia em diferentes épocas. http://www.aracaju.se.gov.br/154anos
um padrão de ocupação mais próximo ao séc. XIX. Mas de que forma podemos manter um padrão de ocupação que está mais próximo do século XIX, se estamos em 2009? Isso é inaceitável! Portanto coloco dois marcos nesse processo:
Na década de 70: com o boom da urbanização do Brasil em um dos estudos mais importantes feitos na capital, dizia-se que para pensar a expansão de Aracaju era preciso pensar a drenagem da cidade, a macro drenagem.
Na década de 90: Participei do chamado Plano Diretor de Aracaju. Este pensava em consolidar a malha na cidade que já estava habitada ou planejar a ida para a zona de expansão, que assim é chamada até hoje, área que vai do Aeroporto até o Mosqueiro. A expansão em Aracaju só poderia ser liberada depois de um estudo sobre a macro-drenagem porque a região possui problemas com canais paralelos ao mar e não há como simplesmente construir sem saber para onde essa água vai escoar.
Exatamente como está acontecendo agora com as chuvas, não tem chovido mais do que o normal, só houve um pequeno aumento pluviométrico, mesmo assim estamos tendo problemas. Uma coisa é mudar, ter a consciência, e a outra é agir em conjunto, juntar a sociedade e as esferas municipal e estadual.O que ocorre é o poder público à reboque doa acontecimentos e assim não tem órgão que dê conta de Aracaju, de Sergipe e do país.
Em Pauta UFS: Como se deu os aterros realizados em Aracaju principalmente no Bairro 13 de Julho e no Jardins?
Maria Augusta: Onde hoje é a beira do rio do Bico do Pato (local da armação da árvore de Natal) até a foz era uma praia. Começou o aterramento dos canais que iam do Augusto’s para o rio. Aterraram o mangue, sem ter para onde escoar, a água “arrastou” a avenida e a praça inteira, temos um exemplo de aterro “vivo” dentro de nossa cidade. O problema foi que, tudo que o rio tirou dali, como as pedras, ele depositou no Havaizinho próximo ao projeto Tamar, causando o afastamento do mar, pois estuários têm dessas mudanças. O shopping e o bairro Jardins, não existiam, a área era coberta por manguezais, existiam fazendas na região da Praça da Imprensa e próximas à Av. Hermes Fontes. Onde hoje é a Pizzaria Tarantella e a Escola Parque de Sergipe eram sedes das fazendas, sendo que, ainda vemos casas com arquitetura e resquícios de fazenda. No lugar da Nova Saneamento existiam apenas dunas com inúmeros pés de mangaba.
Em Pauta UFS: Então Aracaju não foi uma cidade planejada como as pessoas falam?
Maria Augusta: Aracaju foi projetada no passado, tendo apenas o que hoje é o centro da cidade realmente planejado e construído em forma de um

http://www.aracaju.se.gov.br/154anos/index.php?act=galerias
tabuleiro de xadrez. Depois disso o crescimento da cidade seguiu de maneira desordenada, sem acompanhamento ou controle, por falta de dados e estudos reais. Apenas em 1979 fizeram o primeiro sobrevôo em nossa cidade, para conhecer a região, mas não sabiam como chegar àquela realidade. Os responsáveis pegavam um mapa da cidade na prefeitura apenas com as quadras e avenidas desenhadas, não tinham noção de morros, lagoas e curvas de nível. O mesmo acontecia na zona de expansão, lá é como uma lâmina, uma fitinha muito estreita do mar, repleta de canais, com lagoas por todo o caminho, então não é só construir, temos que planejar para onde a água vai depois. O mapeamento de curvas de nível só foi realizado em 2000 (no primeiro governo Déda).
Em Pauta UFS: Quais são os impactos da transposição do Rio São Francisco em Sergipe?
Maria Augusta: A transposição não atinge Sergipe porque antes de chegar aqui a água passa pelas usinas de Paulo Afonso e Xingó. A discussão da transposição é histórica, vem desde os tempos do império colonial (quando viam o rio como um “oásis”, o “Nilo brasileiro”), até a construção de barragens para a geração de energia que não seria para o Nordeste, a agroindústria com a CODEVASF, a irrigação e modernização da área. A questão da transposição não é transpor o rio, e sim criar o projeto de irrigação que é algo caro. Isso tudo depende do cunho político. Pois tem uma realidade a ser feita, mas até chegar a melhorar a qualidade de vida da população vai demorar. Sergipe fica com o final do rio, recebendo uma água dura, “sem vida”, pois é uma água de barragem. Isso afeta a fauna, pois os peixes da piracema não conseguem subir para se reproduzir. Com a construção das barragens sobrou para nosso estado uma água cada vez mais sem vida, onde os ribeirinhos têm estranheza e não reconhecem o rio, não sabem lidar com ele. Além disso, há a perda da força do rio, que fica para a erosão e causa o adentramento do mar quando se encontram. O projeto de revitalização do Baixo São Francisco é a grande reivindicação de Sergipe e dos sergipanos, sobretudo dos ribeirinhos. Na cidade de Propriá se fazia uma semana de cultura e identidade, onde toda a representação política e cultural se encontrava para discutir o Baixo São Francisco.
Em Pauta UFS: Quais são os problemas enfrentados pelo rio São Francisco? E o que devemos fazer?
Maria Augusta: São vários os problemas, como o esgotamento sanitário

Área do Baixo São Francisco. http://www.canoadetolda.org.br
nas bacias, os fazendeiros que barram os afluentes dos rios que passam em suas terras, desmatando próximo para pastagens, desviando e represando a água. Além disso, tem muitas cidades próximas às margens que polui com esgotos a exemplo de Propriá e Penedo.
Precisamos revegetar para continuar construindo, pois o rio está debilitado depois da construção da usina de Xingó, cuidar das bacias e realizar trabalhos que envolvam secretarias de agricultura, educação e pesquisa.
(*) Graduada em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (1988) e doutorado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999).
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2 comentários
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Maria Augusta said, on 5 05UTC Junho 05UTC 2009 at 7:36 pm
Meus caros, gostei muito do trabalho de edição de vcs. Pela quantidade de informação é natural que ocorram alguns erros e assim seguem as correções que anotei .1-caranguejo-uçá (ucides cordatus); 2- doutorado na França com Ignacy Sachs; 3- um professor de Alagoas, autor do projeto (Prof. Rodrigo Ramalho) e a profa. Vania Fonseca; 4- .. aqui na UFS fosse ensinado, por exemplo na UFAL (retirar a UFBA pq ela não entrou no Programa); 5- na década de 90 (retirar o hoje). Participei do … habitada e planejar o crescimento para a zona de expansão; 6- … possui canais e lagoas paralelos ao mar; 7- uma coisa é mudar… nós precisamos agir em conjunto, juntar a sociedade e as esferas municipal e estadual. O que ocorre é o poder publico à reboque dos acontecimentos e assim, não tem órgão publico que dê conta de Aracaju, de Sergiepe e do país. 8- Onde hoje é a beira do rio (não a 13 de julho) do bico do Pato (local da árvore de natal) até a foz era uma praia,,, vendida (retirar depois); 9- O projeto de revitalização do Baixo São Francisco é a grande reivindicação de Sergipe e dos sergipanos, sobretudo dos ribeirinhos. 10- …se encontrava para discutir (tire representat). 11- ….cidades proximas às margens que poluem… Mais uma vez, parabens, o prazer foi meu, Maria Augusta

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