segunda-feira, 2 de março de 2009

a loura do augusto franco

Jornalista, poeta e boêmio.Contatos através do email: folha.da.praia@terra.com.br
Postado em 08/05/2008 08:25
A Loura era o Benedito
Olha como eu fico arrepiado! Vinha com meu chevetinho grafite ouvindo Paulinho cantar coisas de Aracaju, quando, bem ali na ponte do Orlando, me lembrei dela: a Loura defunta do Augusto Franco! Que fim levou?


Dizem que era bela e peituda, um longo vestido em negro tafetá com decote em precipícios, pezinhos levitando no asfalto, mãos diáfanas - onde singravam veias azuis desbotadas - segurando um buquê já meio murcho. Com um lenço branco imaculado e fino, meia noite e tanto a Loura pedia carona. Um conhecido do marido da prima do zelador da repartição, parou. Pra que parou? Diz que a mulher virou caveira arreganhando os dentes em gargalhada escabrosa e um perfume de cravo de defunto impregnou o ar, a roupa, o carro e a vida do coitado. Em casa, uma cera branca lhe encascando a cara, teve dificuldade de explicar aquele cheiro estranho à sua senhora, bambo das pernas, gaguejando muito: - A loura, foi a loura, tô pra morrer de susto! Sua senhora, tão balofa quanto burrinha, ainda achou no banco do carona um longo fio de cabelo dourado, mas nem desconfiou de nada. Era da defunta! E ela mesmo se encarregou de difundir a história, condenando o seu fiel marido a repeti-la ene vezes, pro sogro, pros vizinhos, como também "para o mundo" no acreditado programa radiofônico de Laurindo Campos, o mais espetacular cronista social da época.
Daqui a pouco virou a assombração oficial da cidade. Dela se contavam as aparições mais inusitadas. Com Marquinhos, o noivo de Suely (a Bunduda), filha de Onofre do Caldinho de Ostra, foi diferente: ele não parou - que não era noivo de transgredir depois da meia noite -mas a loura macabra apareceu no banco de trás. Primeiro o cheiro, depois um fungado choroso no cangote e um tapinha no pé do ouvido, quando foi ver, olhando pelo retrovisor, olhe ela lá brilhando no escuro em espectral brancura, com dois aterrorizantes chumaços de algodão enfiado nas ventas. Quase bate num poste. Não fosse o poder de um "creioemdeuspadre" balbuciado aos atropelos, tinha Marquinhos partido pros quinto com loura e tudo. Foi o que contou à chorosa Suely - que dormira de janela aberta e bundão aflito esperando os seus chamegos - quando voltou lá pras quatro da manhã, sem forças para galgar o parapeito, quanto mais...
Foi então que chegou Fernando Sávio na redação do Folha da Praia com a reportagem pronta. Jornalismo puro, matéria de primeira linha destinada a ocupar capa e página dupla central. Mas cadê a foto? Ilustrar com que? Tem nada não, lá estava Benedito Letrado, artista de muitas performances e capaz de tudo por uma capa. Ia ser a Loura do Augusto Franco e ninguém faria melhor! E foi, de peruca e algodão nas ventas, fotografado por Fernando Souza num belo trabalho ainda hoje nos arquivos do jornal, para provar que eu não minto.
Depois disso a Loura se esvaiu. Benedito ficou sendo.

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