COMUNIDADES MACROBÊNTICAS EM PRAIAS ARENOSAS DE
SERGIPE
C.R.P. Guimarães; I.C. Lemos Jr.; D.L.S. Mariano; C.F. Santos & A.R. Menezes.
Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Biologia, Núcleo de Ecossistemas Costeiros.Campus
Universitário Prof. José Aloísio de Campos, Bairro Rosa Elze, 49.100-000 São Cristóvão/SE.
INTRODUÇÃO
As praias arenosas oceânicas apresentam-se como
sistemas dinâmicos, de transição entre o continente
e o oceano, constantemente retrabalhados por
processos eólicos, biológicos e hidráulicos que
alteram a sua morfologia. Diversas definições são
utilizadas para descrever o ecossistema praial e,
neste trabalho, praias foram definidas como
depósitos de sedimentos arenosos inconsolidados
sobre a zona costeira, dominado primariamente por
ondas e limitado na terra, pelos níveis máximos de
ação de ondas de tempestade e no mar, pela região
onde cessa a ocorrência de transporte efetivo de
sedimento de fundo por ondas (Short, 1993).
Em Sergipe, a região costeira tem 168Km de
extensão e apresenta a paisagem dominante
esculpida na Bacia Sedimentar Sergipe/Alagoas,
unidade geológica recoberta pelos sedimentos
terciários do grupo Barreiras e pelos sedimentos
quaternários de origem marinha, fluvial e eólica
que formam a planície litorânea. Suas praias
arenosas são expostas ao mar aberto e estão
divididas em 4 setores determinados pela
desembocadura dos rios que cortam o estado. Com
exceção do litoral norte de Sergipe que delimita a
reserva de Santa Isabel, nas demais praias se
desenvolvem atividades turísticas, comerciais e
industriais. Justifica-se então o monitoramento
dessas regiões para o estabelecimento de políticas
de uso e gerenciamento.
Não se preserva aquilo que não se conhece. É
urgente, então, a necessidade de inventários e
trabalhos ecológicos para saber quem são as
comunidades animais que se encontram nestes
ambientes e como elas reagem aos parâmetros
ambientais que condicionam a dinâmica costeira.
OBJETIVO
·Determinar a composição da macrofauna bêntica
de praias arenosas de Sergipe;
Caracterizar os padrões de distribuição espaciais
desta fauna;
MATERIAL E MÉTODOS
Telergipe, é uma praia urbana localizada entre a
desembocadura dos rios Sergipe e Vaza-Barris
(11°02’27'’S e 37°05’07'’W) e foi amostrada em fev./
2006. As amostragens foram realizadas durante a
baixa mar de sizígia, desde um ponto fixo no
supralitoral até a profundidade de 1m da coluna
d’água no infralitoral. As estações do médiolitoral
foram determinadas com distância fixa de 10m
entre as estações e as do infralitoral pela
profundidade da coluna d’água (10, 50 e 100cm).
Em cada estação foi coletado sedimento com um
cilíndro de PVC de 5cm de diâmetro enterrado a
10cm de profundidade para a determinação da
granulometria e dos teores de matéria orgânica e
carbonato de cálcio. Os parâmetros biológicos foram
coletados em triplicata em cada uma das estações
com um cilindro de PVC de 25cm de diâmetro
enterrado a 30cm de profundidade. Ainda em
campo, o material biológico coletado foi lavado e
colocado em sacos plásticos contendo formol 10%
e rosa-de-bengala. Em laboratório as amostras
biológicas foram lavadas em peneiras de 500
micras, depositadas em frascos contendo álcool 70%
e posteriormente triadas sob microscópio
estereoscópico e identificados conforme os
procedimentos taxonômicos usuais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram determinados 30 táxons e um total de 12.982
espécimens na macrofauna bêntica. O grupo
dominante foi Mollusca com 78,6% da fauna,
seguido pelos Crustacea com 16,7% e os Polychaeta
com 2,5%. O somatório dos demais grupos atingiu
2,2% da fauna. McLachlan (1990) relata serem os
crustáceos os organismos mais capazes de colonizar
as praias reflectivas, dinâmicas, de granulometria
grosseira, enquanto que os moluscos têm menor
Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil,
23 a 28 de Setembro de 2007, Caxambu - MG 2
sucesso nestes
2
sucesso nestes ambientes e os poliquetos são os
menos capazes de ocupá-los. Os Mollusca
caracterizam a praia como intermediária. O gênero
responsável pela dominância dos Mollusca foi
Donax representado por juvenis de D. gemulla e
D. variabilis. Houve aumento crescente no número
de táxons do médiolitoral superior ao infralitoral.
No médiolitoral superior a riqueza variou entre 1
e 4 táxons/estação, no médiolitoral médio entre 4
e 5, no médiolitoral inferior entre 6 e 9 e no
infralitoral entre 12 e 19. Foram encontrados 17
táxons no médiolitoral e 23 no infralitoral; dez
táxons foram comuns aos ambientes, 7 foram
encontrados apenas no médiolitoral e 13 apenas
no infralitoral. Dentre os Crustacea os Peracarida
(Amphipoda) foram dominantes e dentre os
Polychaeta destacou-se Pisionidens indica.
A diversidade, que mede o grau de complexidade
da estrutura da comunidade, de maneira geral, foi
crescente em direção ao infralitoral. Foram
encontrados valores baixos na maioria das estações
do médiolitoral superior (<1bits/ind) e em níveis
intermediários nas demais regiões (<3bits/ind e
>1bits/ind). Entretanto, a análise geral do
médiolitoral mostrou uma diversidade maior
(1,98bits/ind.) que a encontrada no infralitoral
(1,75bits/ind.). A dominância foi alta para a praia,
neste período de verão.
A análise de agrupamento, para dados de presença/
ausência (coef = 0,80) permitiu a formação de 3
grupos. O grupamento 1, envolvendo o médiolitoral
superior; o grupamento 2, envolvendo o
médiolitoral médio e inferior além da 1ª estação do
infralitoral e o grupamento 3 envolvendo as 2
outras estações do infralitoral.
Os sedimentos apresentaram constituição
tipicamente quartzosa. A granulometria variou de
areias muito finas a finas e os teores de matéria
orgânica e carbonato de cálcio foram baixos (ambos
<1%), indicando um aporte de MO para as praias
relativamente pobre se comparados com os obtidos
no interior de estuários e regiões de plataforma
continental. Snelgrove e Butman (1994), analisando
a relação animal-sedimento, afirmam que não
existem evidências diretas de que o tamanho do
grão do sedimento seja, por si só, um bom descritor
da macrofauna bêntica. A análise destes
componentes do sedimento pelas estações não
evidenciou relação com a distribuição da fauna,
sugerindo que outros parâmetros devam ser
investigados.
Em termos nacionais, é prioritário o destaque que
deve ser dado ao reconhecimento da diversidade
em vários níveis. Isso é muito relevante, uma vez
que o Brasil está entre as 12 nações detentoras de
70% da biodiversidade do planeta (IBGE, 2004).
CONCLUSÃO
A praia da Telergipe apresentou 12.982 indivíduos
distribuídos em 30 taxons com índices de
diversidade médios. Predominaram os Mollusca,
com dominância do gênero Donax seguido pelos
Crustacea e Polychaeta. A riqueza e diversidade
foram crescentes em direção ao infralitoral. O
entendimento da dinâmica praial exigiria um
acompanhamento mais sistemático tanto das
informações bióticas como abióticas. Entretanto,
as informações obtidas contribuíram para o
entendimento do comportamento de verão da fauna
que habita esta região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
McLachlan, A. 1990. The macrobenthic
communities. In BROWN, A. C. &
McLACHLAN, A. Ecology of sandy shores.
Elsevier, Amsterdam, 121-143 p.
Snelgrove, P.V.R.; Butman, C.A. 1994. Animalsediment
relationships revisited: cause versus
effect. Oceanogr. Mar. Biol. A. ver., 32: 111-177.
Short, A.D. 1993. Beaches of the New South Wales
coast- a guide to their nature, characteristics,
surf and safety. Sidney: Australian Beach S
sexta-feira, 20 de março de 2009
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