quinta-feira, 5 de março de 2009

Texto sobre desenvolvimento local e edu ambiental

Desenvolvimento Local e Educação Ambiental: Questões e desafios
Paula Sant’Anna Battassini1
Universidade Católica Dom Bosco
paula.biologia@hotmail.com
Reginaldo Brito da Costa2
Universidade Católica Dom Bosco
rcosta@ucdb.br
Resumo
O presente trabalho analisa questões-chave a respeito da Educação Ambiental como um
instrumento para o desenvolvimento com base local, considerando-se o uso racional dos
recursos naturais, a auto-sustentabilidade, o respeito à diversidade cultural e biológica,
assim como a educação contínua.
PALAVRAS-CHAVE: Educação ambiental, qualidade de vida, sustentabilidade.
Abstract
This paper analyses key questions related to the Environment Education as a tool to achieve
development on a local basis, with consideration to the rational usage of natural resources,
the self-sustainability, the respect to cultural and biological diversity, as well as to the
continuing education.
KEY-WORDS: Environment education, sustainability, quality of life.
1 Bióloga, guia de turismo, acadêmica do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local – Universidade
Católica Dom Bosco - UCDB, bolsista CAPES.
2 Engenheiro Florestal, Doutor em Ciências Florestais e professor do Programa de Mestrado em
Desenvolvimento Local Universidade Católica Dom Bosco – UCDB.
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Introdução
Nas últimas décadas o ser humano voltou sua atenção às questões ambientais, isto
aconteceu devido à ocorrência de constantes manifestos e eventos destinados a
sensibilização da população mundial quanto à necessidade de se atentar para a intensidade
crescente dos impactos negativos causados à natureza, como também para suas
conseqüências, colocando em risco, a sobrevivência dos seres humanos e de todas as
formas de vida do planeta, sugerindo a implantação de sistemas reguladores com a
finalidade de minimizar os impactos antrópicos.
Tornou-se vital conhecer o destino do planeta em que vivemos, tentar perceber o
caos dos acontecimentos, interações e retroações nos quais se misturam os processos
econômicos, políticos, sociais, étnicos, religiosos, mitológicos que tecem esse tecido.
Igualmente vital, conforme Morin (2003, p. 11) "saber quem somos, o que nos atinge, o que
nos determina, o que nos ameaça, nos esclarece, nos previne e o que talvez possa nos
salvar". Neste sentido, Leff (2003, p.19) afirma que "a crise ecológica atual pela primeira
vez não é uma mudança natural, é uma transformação induzida pelas concepções
metafísica, filosófica, ética, científica e tecnológica do mundo".
Portanto, "a crise ambiental é a primeira crise do mundo real produzida pelo
desconhecimento do conhecimento, desde a concepção do mundo e do domínio da natureza
que geram a falsa certeza de um crescimento econômico sem limites, até a racionalidade
instrumental e tecnológica como sua causa eficiente" (LEFF, 2003, p.16). A referida crise
do nosso tempo se apresenta como fator que envolve o crescimento econômico e
populacional; os desequilíbrios ecológicos e as capacidades de sustentação da vida com
conseqüente aumento da pobreza e da desigualdade social. A crise ambiental é sobretudo
um problema de conhecimento, da complexidade do mundo, considerando suas diferenças e
as inúmeras interações existentes. A construção de uma racionalidade sócioambiental tornase
uma estratégia conceitual nos domínios do poder no saber, na perspectiva de gerar
habilidades inovadoras para um desenvolvimento local integrado sustentável.
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Em seu texto, Ávila (2003) discute o conjunto de princípios fundamentais da
terminologia do desenvolvimento local, enfatizando a valorização do ser humano. As
definições vão além do simples crescimento econômico, envolvendo aspectos abrangentes
de qualidade de vida, tais como inclusão social, proteção à diversidade cultural, uso
racional dos recursos naturais, dentre outros. O modelo de desenvolvimento com base local
e sustentável implica na formação e na educação da própria comunidade em matéria de
cultura, capacidades, habilidades e competências que permitam a ela mesma agenciar e
gerenciar todo o processo de desenvolvimento da localidade, ao invés de apenas participar.
Este é um processo dinamizador da comunidade local a fim de que a mesma reative sua
economia e toda a perspectiva de qualidade de vida sociocultural e ambiental.
Isto implica em uma revolução do pensamento, mudança de mentalidade,
transformação do conhecimento e das práticas educativas para construir um novo saber e
uma nova racionalidade que orientem a construção de um mundo de sustentabilidade, de
eqüidade e de democracia em busca ao desenvolvimento com base local.
Nesta linha de pensamento, este trabalho pretende abordar aspectos
relacionados ao desenvolvimento local, tratando das questões e desafios que envolvem o
processo da educação ambiental para a sustentabilidade.
1. Desenvolvimento Local
Um dos termos que tem gerado discussões entre os pesquisadores, conforme
analisa Portuguez (2002, p.25) é o tão discutido “desenvolvimento”, que “adquire
dimensões teóricas cada dia mais complexas, possibilitando uma reflexão global
comprometida com a trasndisciplinarização do conhecimento com uma visão mais
abrangente da problemática”.
Na concepção geral, o desenvolvimento pode ser entendido como sinônimo de
progresso, ampliação quantitativa dos recursos de produção, ou seja, uma concepção
criticada pela sua superficialidade por ser formada apenas pelo crescimento econômico por
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meio da maximização da produção e pela modernização tecnológica, em que ambos se
estimulam mutuamente. Dessa forma, seria dúbio tentar definir rigidamente a idéia de
desenvolvimento.
A complexidade do termo abre uma nova reflexão sobre a natureza do ser, do
saber e do conhecer; sobre a hibridação do conhecimento na interdisciplinaridade e na
transdisciplinaridade; sobre diálogos de saberes e a inserção da subjetividade de valores e
dos interesses na tomada de decisões e nas estratégias de apropriação da natureza (LEFF,
2003).
Partindo na análise de alguns estudos relacionados com a questão do
“desenvolvimento” por meio do turismo, muitos colaboraram para o amadurecimento desta
temática conforme comentado por Portuguez (2002, p.28) quando empregada à expressão
“desenvolvimento local” para propagar:
o processo em que as localidades, munidas de seus recursos mais
variados, criam oportunidades de promoção de bem-estar coletivo,
implementando atividades que de alguma forma dinamizem a economia
em pequena escala, gerando o desenvolvimento do lugar mediante
estratégias de baixo impacto sócioambiental.
Concepção semelhante foi proposta por Rodrigues (2000) afirmando que
desenvolvimento não pode ser empregado como sinônimo de crescimento, nem tampouco
regular distribuição da riqueza, lembrando que “a economia não é tudo sem eficácia
social”.
Martins (2002, p.53) baseia-se no conceito de Rozas (1998):
desenvolvimento local é a organização comunitária em torno de um
planejamento para o desenvolvimento, por uma perspectiva de construção
social, consistindo assim em um instrumento fundamental, de caráter
orientador e condutor, de superação da pobreza. Não se trata, contudo, de
buscar tão somente atendimento às carências materiais, mas à
identificação e a promoção das qualidades, capacidades e competências
existentes na comunidade e no lugar.
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Com o exposto, vê-se que as idéias apresentadas pelos autores citados são muito
semelhantes, pois todos enfatizam o planejamento e a gestão do desenvolvimento com base
nos lugares, preocupando-se com as questões socioambientais das localidades, ou seja, um
desenvolvimento humano e ecológico que visa à questão econômica como sua
conseqüência e não como um fim.
A valorização local permite ao ser humano uma participação efetiva na busca da
sustentabilidade da cultura, da identidade e do território, com base nos conceitos de
desenvolvimento elucidados por Martins (2002, p.53):
[...] desenvolvimento local, todavia, não equivale a geração de emprego e
renda, não obstante tem sido esta a tônica de grande parte dos projetos
(não raro, práticas sem fundamento teórico) que levam a rubrica de
desenvolvimento local. O desenvolvimento deve ser uma ação de
enfrentamento real às piores manifestações de pobreza, objetivando a
igualdade de opções e não de renda.
A íntima relação deste tipo de desenvolvimento com a educação faz-se presente
face à necessidade do desenvolvimento emergir de forma endógena, isto é, de dentro para
fora, não excluindo aí a participação do agente externo que mostrará alguns caminhos que
poderão ser seguidos como um mero interlocutor, porém, a comunidade deve agenciar e
gerenciar seu próprio desenvolvimento, sabendo discernir o que lhe serve ou não desta
contribuição externa, procurando a sua efetiva emancipação.
Para sair da complexidade sistêmica, totalizante, paralisante e autodestrutiva;
para reconstruir o mundo nas vias da utopia, da possibilidade, da potencialidade do real, das
sinergias da natureza, da tecnologia e da cultura; para restabelecer o vínculo entre o ser e o
pensar; propõe um reencontro nesse domínio em que o homem e o ser têm se encontrado
sempre em sua essência, simplesmente por meio da experiência do pensar (LEFF, 2003). A
compreensão dessa complexidade emerge um projeto de desconstrução da lógica unitária,
da busca pela verdade absoluta, do pensamento unidimensional, da ciência objetiva, como
também o crescimento do conhecimento, do controle crescente planetário, do domínio da
natureza e da gestão racional do ambiente.
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Considerando que o conjunto das relações sociais determina a dinâmica do
mundo, a educação ambiental deve buscar sua contínua recriação, avaliando seu próprio
caminhar na direção da convivência coletiva e da relação da sociedade diante do mundo.
Num olhar fenomenológico, significa avaliar a si próprio na busca da identidade individual
(ser humano) em uma área de aprendizagem coletiva (sociedade) e, desta justaposição,
construir uma relação com o mundo (oikos). Sato (2004, p.11) assevera que "nossa
liberdade e responsabilidade implicam uma situação ontológica que se situa no
desenvolvimento da humanidade, que antes de ser adjetivado de "sustentável", deve
responder ao desejo de uma sociedade global com menos disparidades sociais e com mais
cuidados ecológicos".
2. Educação Ambiental
Em nenhum período conhecido da história humana a educação precisou mudar
paradigmas para buscar uma educação renovadora, como um processo mais completo que
promova o desenvolvimento de uma compreensão mais realista do mundo. Em pertinente
análise, Dias (2004, p.115-17) sustenta que:
estamos produzindo um mundo que nenhum de nós deseja. A par dos
grandes avanços científicos e tecnológicos, a espécie humana experimenta
um novo desafio à sua sustentabilidade: a perda do equilíbrio ambiental,
acompanhada da erosão cultural, injustiça social e econômica e violência,
como corolário de sua falta de percepção, do seu empobrecimento ético e
espiritual, também fruto de um tipo de Educação que ‘treina’ as pessoas
para ser consumidoras úteis, egocêntricas e ignorar as conseqüências
ecológicas de seus atos.
Por meio da Educação Ambiental (EA), também conhecida como Educação
Sócio-Ambiental (ESA), as pessoas podem analisar a realidade de uma maneira mais
crítica, ou seja, buscando enxergar o que está certo e o que não está e procurando meios
para provocar as mudanças necessárias. Este entendimento pode acontecer através de suas
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próprias experiências e da troca de experiências com o outro. Agindo desta forma, podemos
exercer a cidadania, promovendo transformações em todos os níveis da sociedade.
A EA apresenta-se como uma das alternativas de transformação da educação, no
marco do novo paradigma da sociedade e do conhecimento, capaz de superar a visão
positivista e tecnocrática que caracteriza a civilização ocidental, hoje em crise global
(MININNI-MEDINA, 2001).
Em pertinente análise, Dias (2002) comenta que na visão do modelo econômico
atual, os recursos naturais são apenas uma fonte de lucro, sempre disponíveis e gratuitos. A
natureza está lá para ser explorada e “dominada”, sem que tenha alguma responsabilidade
com ela.
Sob esta ótica, Costa (2003, p.55) sustenta que:
o crescimento segmentado da sociedade e sua capacidade de consumo em
diversos setores são diferenciados. Neste contexto, torna-se evidente na
atualidade, um sistema de intercâmbio de bens globalizado, que produz
uma crescente pressão social e populacional sobre os biomas,
degradando-os.
Isto provoca inquietação a partir da reflexão do artigo 225 da Constituição
Federal do Brasil em seu Capítulo III: “Todos têm o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
As sociedades consumistas agem como se os recursos naturais fossem infinitos.
Baseiam-se no aumento da produção e, consequentemente, do consumo. Ocorre que, ao
aumentar o consumo, aumenta-se a pressão sobre os recursos naturais, ou seja, necessita-se
de mais água, mais matéria-prima, mais energia, mais solos férteis, mais combustíveis; e,
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com isso, cresce a degradação ambiental em todas suas formas, perdendo-se
gradativamente a qualidade de vida.
Além dessa deterioração do meio ambiente, outro exemplo da ação antrópica
está na produção de resíduos sólidos, comumente denominados de “lixo”, ligada
intimamente ao aumento do consumo da sociedade moderna e ao crescimento da
população. A maioria dos municípios brasileiros está numa situação grave, na qual os
resíduos sólidos são encaminhados para lixões a céu aberto, sem nenhum cuidado sócioambiental
e causando inúmeros problemas de saúde pública.
Os princípios básicos para a minimização dos resíduos produzidos nos meios
urbanos começaram a ser difundidos no Brasil após a conferência mundial sobre meio
ambiente realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Rio de Janeiro, em
1992. Sobre a conferência Rio 92, em seu relatório sobre o Meio ambiente e
Desenvolvimento, citado pela Câmara dos Deputados/Brasil (1995):
uma das metas básicas da EA é lograr que as pessoas e as comunidades
compreendam o caráter complexo do meio ambiente natural e artificial,
resultante da inter-relação de seus aspectos biológicos, físicos, sociais,
econômicos e culturais, e adquiram os conhecimentos, os valores, as
atitudes e as aptidões que permitam participar, de forma responsável e
eficaz, do trabalho de prevenção e resolução de problemas ambientais, e
na gestão qualitativamente apropriada ao meio ambiente.
Vale ressaltar que o Brasil é o único país da América Latina que tem uma
política nacional específica para a Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99). É oportuno, neste
contexto, relembrar os objetivos da EA estabelecidos nesta Lei que instituiu a Política
Nacional da Educação Ambiental do Brasil. Em seu artigo nº. 5 constam seus objetivos
fundamentais, dentre eles:
I - desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e
complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais,
econômicos, científicos, culturais e éticos;
II – a garantia de democratização das informações ambientais;
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III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e
social;
IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, estendendo-se a
defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;
V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macroregionais,
com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da
liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;
VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;
VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como
fundamentos para o futuro da humanidade.
Em conformidade com o Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA
(BRASIL/MMA, 2005, p.5 ) as ações da educação ambiental (EA):
destinam-se a assegurar, no âmbito educativo, a integração equilibrada
das múltiplas dimensões da sustentabilidade – ambiental, social, ética,
cultural, econômica, espacial e política – ao desenvolvimento do país,
resultando em melhor qualidade de vida para toda população brasileira,
por intermédio do envolvimento e participação social na proteção e
conservação ambiental e da manutenção dessas condições ao longo
prazo.
O objetivo da EA é o de contribuir para a conservação da biodiversidade, para a
auto-realização individual e comunitária e para a autogestão política e econômica, através
de processos educativos que promovam a melhoria do meio ambiente e da qualidade de
vida (SORRENTINO, 1995). Por outro lado, Dias (2004,) afirma que o âmbito da
Educação Ambiental torna-se urgente carecendo oferecer mais informação e capacitação,
pois a educação ainda treina a (o) estudante para ignorar as conseqüências ecológicas dos
seus atos.
A EA discutida por Leff (2003, p.57) é tratada como um processo no qual todos
nós somos aprendizes e professores. Enfatizando: "os bons mestres sempre foram
aprendizes até alcançar a maestria de artes e ofícios", onde toda aprendizagem é apreensão
e transformação do conhecimento a partir do saber que constitui o ser, assim como uma
reapropriação subjetiva do conhecimento. O mesmo autor apontou para uma educação que
permite preparar-se para a construção de uma nova racionalidade, não para uma cultura de
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desesperança e alienação; ao contrário, para um processo de emancipação que permita
novas formas de reapropriação do mundo.
Muitos são os métodos possíveis para a realização da EA. O mais adequado é
que a equipe multidisciplinar envolvida estabeleça o seu, e que o mesmo possa convergir
para as expectativas e peculiaridades do público alvo. Dias (2004) relembra que é obvio a
existência das conquistas da EA, mas estas estão sendo insuficientes para provocar as
mudanças de rumo que a velocidade da degradação ambiental exige.
Segundo Reigota (2001, p. 38) para a realização da educação ambiental pode-se
empregar os métodos passivos, ativo e descritivo, ou seja, o primeiro pressupõe que o
processo pedagógico seja aberto, democrático e dialógico entre os alunos, entre eles e os
professores, com a comunidade em que vivem e com a sociedade civil em geral. O segundo
os participantes aprendem definições de conceitos e descrevem o que eles puderam
observar, por exemplo, numa excursão. Já o terceiro pode ser definido como o método em
que os alunos completam sua descrição com dados e informações e respondem uma serie de
questões sobre o tema.
Outro método a ser considerado é a interpretação ambiental como uma atividade
educativa que pretende revelar significados e inter-relações através de um contato direto
com o recurso ou por meios ilustrativos, não sendo limitada a dar uma informação do
ambiente, é o processo de desenvolver o interesse, o desfrute e a compreensão do ser
humano por uma área, mediante a explicação das mesmas (TILDEN apud MAMEDE,
2003).
Segundo Morin (2003) o método não precede a experiência, emerge durante a
experiência ou seja, a relação entre o método e a teoria está certamente no caminho que se
inicia a partir de algo e também prefigura um fim.
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O ambiente não é apenas fauna e flora, o ser humano também faz parte da
natureza que é formada pelos seus fatores abióticos (ar, solo, temperatura), mais os fatores
bióticos (plantas, animais, microrganismos) e também pela cultura humana envolvendo
seus paradigmas, princípios éticos e, sobretudo, seus valores políticos, científicos,
filosóficos, artísticos, econômicos, sociais e religiosos.
Leff (2003, p.32) conceitua o ambiente como "uma estrutura sócio-ecológica
holística que internaliza as bases ecológicas da sustentabilidade e as condições sociais de
eqüidade e democracia". No entanto, os princípios e valores que guiam a reorganização da
sociedade são mobilizados pelo desejo - a vontade de poder - que induz um processo
interminável de transformação do saber e do ser que nenhum conhecimento pode saciar.
A diversidade, seja ela cultural ou natural, ainda é a maior expressão da
Educação Ambiental. Faz-se necessário conhecer as representações dos indivíduos ou dos
grupos sociais sobre o “ambiente”, pois, dependendo do que aceitamos como ambiente,
nossas representações poderão direcionar as práticas pedagógicas da Educação Ambiental
(SATO, 2004).
A Educação Ambiental busca, portanto, provocar a mudança de comportamento
e atitudes diante do meio ambiente, de forma a possibilitar a melhoria de qualidade de vida.
Quanto mais conhecermos a natureza e suas relações, mais teremos chances de encontrar
melhores formas de utilizar os recursos, causando uma menor degradação.
3. Educação Ambiental: Um instrumento para o desenvolvimento local
Pode-se dizer que a conservação da natureza seria o controle do uso humano
sobre os organismos e ecossistemas a fim de garantir a sustentabilidade, ou seja, garantir
que as necessidades atuais sejam elas sociais, econômicas, ambientais ou culturais, possam
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ser satisfeitas sem que comprometam as necessidades ou opções das presentes e futuras
gerações. Se a sustentabilidade é a marca da crise de uma época, tal fato nos leva a
interrogar as origens de sua presença no tempo atual e a projeção para um futuro
sustentável possível (LEFF, 2003).
Os países considerados desenvolvidos exportam seus estilos de vida pelo
processo da globalização. Desta forma, difunde-se no mundo o mesmo modelo, ou seja,
todos desejam a mesma coisa, buscam o mesmo estilo de vida, usam as mesmas coisas e
produzem os mesmos resíduos. Tal modelo de desenvolvimento produz exclusão social e
miséria de um lado, consumismo e desperdício, de outro. Ambos causam degradação
ambiental e, em conseqüência, perda da qualidade de vida.
A utilização de espaços naturais como alternativas de sustentabilidade
econômica agrega valores por meio da divisão do trabalho. Este capital natural deve ser
aproveitado para que os profissionais possam articular-se a fim de possibilitar a
participação efetiva da comunidade local, como também de visitantes, em um sistema
organizacional que proporcione ganho a todas as partes envolvidas. De acordo com Le
Bourlegat (2000 p.13): “os elementos da natureza transformam-se em potencialidades,
quando assim o são percebidos, seja para oferta de recursos vitais e/ou econômicos”.
Marques (2001) defende a idéia de que a primeira condição para o êxito das
iniciativas locais em favor do desenvolvimento é a coordenação dos diversos agentes que
atuam no território. Normalmente, são os poderes públicos locais, na sua condição de
responsáveis pela coesão territorial, que assumem e promovem as referidas iniciativas.
Outro dos pilares do desenvolvimento local é a participação ativa dos agentes territoriais.
O desenvolvimento local é um modelo que visa não somente o aumento de
indicadores econômicos, como também o processo dinamizador que utiliza a comunidade,
o ser humano, como principal instrumento de melhoria da qualidade de vida, como ressalta
Carpio, (1999 apud Marques, 2001, p.51):
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o desenvolvimento local é o processo dinamizador da sociedade local,
mediante o aproveitamento eficiente dos recursos endógenos existentes
em uma determinada zona, capaz de estimular e diversificar seu
crescimento econômico, criar emprego, sendo resultado de um
compromisso pelo qual se entende o espaço como lugar de solidariedade
ativa, o que implica mudanças de atitudes e comportamentos de grupos e
indivíduos.
Costa (2003) ao defender o conceito de Boff (2000) afirma que o modelo de
desenvolvimento adotado nos últimos 400 anos encontra-se hoje em processo de mudanças
de paradigma, tendo em vista a crise ambiental e o aumento da miséria em vastas regiões
do planeta. Nossa civilização foi assolada com a idéia da possibilidade do crescimento
ilimitado, do consumo desenfreado dos bens ambientais, sendo apropriados e transformados
por meio do avanço científico e tecnológico. Esse “desenvolvimento” não foi feito com o
povo, nem para o povo. Ninguém do lugar foi convidado para opinar, ser ouvido,
principalmente as populações com saberes acumulados por centenas de gerações sobre seu
habitat que foram praticamente dizimadas.
Com base nas idéias de Ávila (2003), o desenvolvimento local tem como
princípio elementos como solidariedade e participação, tendo como alicerce o respeito pela
identidade da população local e de cada grupo e pessoa que a integram, incluindo a
valorização da sociedade multicultural.
O processo de desenvolvimento local, como da educação ambiental, aparece
como um caminho (que se faz ao caminhar) a ser seguido para se chegar à satisfação em
qualidade de vida da coletividade, o qual permite perceber a importância do envolvimento
de todos os setores da sociedade, considerando o trabalho integrador, assim como a sua
auto-sustentabilidade. O aproveitamento do potencial da comunidade local resgata e
valoriza a sua cultura, fazendo com que as pessoas sintam-se responsáveis e envolvidas na
busca das soluções dos problemas locais, promovendo mudanças no comportamento. Le
Bourlegat (2000) assevera que: “a força do lugar (ordem local) reside no território
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compartilhado e identificado por uma consciência social e comunitária, cuja essência é a
própria história vivida em comum”.
Para tornar a educação ambiental um instrumento de desenvolvimento local é
necessário a formação de uma nova consciência através do conhecimento e da reflexão
sobre a realidade ambiental e social. Esta voltada para o desenvolvimento de atitudes e
condutas que favoreçam o exercício da cidadania, a conservação do meio ambiente e a
promoção da saúde e do bem-estar.
A problemática ambiental, mais que uma crise ecológica, é um questionamento
do pensamento e do entendimento, da ontologia e da epistemologia com as quais a
civilização ocidental compreendeu o ser, os entes e as coisas; da ciência e da razão
tecnológica com as quais a natureza foi dominada e o mundo moderno economizado
(LEFF, 2003).
A valorização da idéia de que é possível construir um mundo no qual o ser
humano aprenda a conviver com seu habitat numa relação harmônica, a atenção à questão
sócio-ambiental precisa permear todas as atividades humanas. É preciso, portanto,
promover propostas educativas interculturais que venham promover a reflexão, o debate e a
transformação das pessoas e das instituições com ênfase no respeito à pluralidade cultural ,
à diversidade individual e à biodiversidade. Para Leff (2003) isto implica uma nova
compreensão do mundo que incorpora conhecimentos e saberes arraigados em
cosmologias, mitologias, ideologias, teorias e saberes práticos que estão nos alicerces da
civilização moderna, no sangue de cada cultura, no rosto de cada pessoa. Por esse caminho,
pode-se trilhar o desenvolvimento local integrado e sustentável.
Considerações Finais
Em um mundo regulado por relações globalizadas e que possui evidentes crises
na atualidade resultantes da perda da diversidade biológica e cultural; e do fracasso de um
certo modelo de desenvolvimento econômico implementado com a intenção de melhorar a
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qualidade de vida humana, faz-se necessário repensar o atual modelo de desenvolvimento e
refletir a respeito do tipo de desenvolvimento que desejamos, como também buscar
alternativas para minimizar a degradação ambiental e a injustiça social.
A educação sócio-ambiental pode ser considerada um importante instrumento
para subsidiar os caminhos da transformação por meio da sensibilização individual e
coletiva e pela constituição de forças endógenas de desenvolvimento, em que se respeite a
diversidade cultural e biológica. São diversos pontos de vista face ao tema que levantam
diferentes reflexões culminando em um dos grandes desafios da humanidade neste século
XXI: fomentar a melhoria da qualidade de vida por meio da solidariedade, emancipação e
uso racional dos recursos naturais.
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