sábado, 29 de agosto de 2009

A mata atlantica em Sergipe

A Mata Atlântica em Sergipe (Lizaldo Vieira)

O Estado de Sergipe localiza-se a leste da
região Nordeste e tem a menor área do Brasil
em extensão territorial, com 22.050,40 Km2.
Possui cerca de 1.800.000 habitantes, 62,4%
urbanos, densidade demográfica de 77,67 hab/
Km2, crescimento demográfico de 1,2% ao ano
e uma faixa de migração interna de 11,25%. Sua
área natural é bastante devastada, sendo cerca
de 90% utilizada como pastagens e atividade intensiva
de agricultura, restando apenas algumas
manchas da floresta costeira, mata de restinga,
mata ciliar, cerrados arbustivos e caatinga.
Em Sergipe, como no Nordeste em geral, as
áreas remanescentes são pequenas e extremamente
fragmentadas com grande impacto antrópico.
Originalmente, a Mata Atlântica ocupava
toda faixa litorânea sergipana, até a chegada do
homem branco (europeu) em 1501 para tomar
posse das terras indígenas, com os objetivos
de explorar o pau-brasil, criar gado e plantar
cana-de-açúcar. Após mais de 500 anos de ocupação,
da Mata Atlântica original restam poucos
corredores ao longo da extensão litorânea do
Estado, ocupando cerca de 40 Km2 de largura do
território sergipano, com formações de diferentes
ecossistemas, que incluem as faixas litorâneas
com suas associações das praias e dunas, com
ocorrência das formações florestais perenifólias
latifoliadas higrófilas costeiras (floresta costeira),
que ocorrem ao longo do todo o litoral
sergipano sob a forma de pequenas manchas,
exceto na porção sul do Estado, onde algumas
fazendas particulares se apresentam mais preservadas,
localizando-se normalmente nos topos
das colinas mais elevadas ou nas encostas que
apresentam declividades acentuadas. Nos locais
onde foi fortemente devastada, aparecem os
cultivos perenes e temporários e posteriormente
as pastagens. A Mata Atlântica sergipana ocorre
desde municípios localizados no São Francisco
até Mangue Seco, na divisa com a Bahia.
Cidade de
Aracaju
Sergipe

Apesar da devastação por conta da forte
ação antrópica, o pouco que resta preservado da
grande diversificação ambiental proporciona à
Mata Atlântica uma enorme diversidade biológica,
com um bom número de mamíferos, aves, répteis
e anfíbios que ali sobrevivem e garantem a reprodução
de muitas espécies, sendo que várias delas
são endêmicas (só ocorrem ali). A Mata Atlântica
ainda possui raras espécies de plantas - das quais
muitas são endêmicas - e ainda consegue ser o
primeiro e maior bloco de florestas do Estado.
A zona costeira de Sergipe é dividida em dois
setores: Litoral Norte e Litoral Sul.
O Litoral Norte compreende 2.300 Km2, em
112 Km de extensão, com uma população de 600
mil habitantes (257 hab/Km2), em 17 municípios
– Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do
Socorro, Laranjeiras, Riachuelo, Maruim, Santo
Amaro das Brotas, Pirambu, Carmópolis, Capela,
Siriri, General Maynard, Pacatuba, Japaratuba,
Rosário do Catete, Ilha das Flores e Brejo Grande.
Apesar de ser uma Reserva Nacional, tem como
principal uso do solo a exploração dos recursos
minerais, o que tem causado sérios problemas
ambientais, em decorrência da exploração de petróleo,
gás, cloreto de sódio, cloreto de potássio
e outros evaporitos associados, como também
pela presença de indústrias de cimento e de fertilizantes.
Grande parte das cidades localiza-se no
interior dos estuários e tabuleiros, com exceção
de Aracaju e Barra dos Coqueiros. Há também
grandes propriedades de cocoiculturas, cana e pecuária.
Em oito municípios, predomina a lavoura
e, em outros oito, a pecuária. Laranjeiras tem a
maior usina do Estado, com grandes canaviais e
algumas destilarias de álcool.
O Litoral Sul possui 2.500 Km2, com 55
quilômetros de extensão, concentrando 143 mil
habitantes (57 hab/Km2), em cinco municípios
– São Cristóvão, Itaporanga, Estância, Santa Luzia
do Itanhy e Indiaroba. A atividade predominante
é o turismo, por conta do centro histórico de São
Cristóvão, o fácil acesso às praias e uma infraestrutura
de bares, restaurantes e pousadas em
expansão. A economia baseia-se na agricultura.
Estância e Itaporanga formam um pólo industrial
alavancado pela indústria têxtil, de fabricação de
sucos de fruta e cervejaria que, juntamente com
Itabaiana e Lagarto, formam os centros urbanos
mais importantes do Estado depois de Aracaju.

Os ecossistemas
A caracterização da Mata Atlântica em Sergipe
foi apresentada por Santos e Andrade (1992),
que descrevem:
OS ecossistemas da região da Mata Atlântica
envolve 5.750 Km2 do Estado. Atualmente a cobertura
vegetal original restringe-se a manguezais,
vegetação de restinga e remanescente da floresta
tropical úmida. Também denominada de mata
costeira, ocupa aproximadamente uma faixa de 40
Km2 de largura, estendendo-se de sul para norte
vindo da Bahia até Alagoas. Apresenta várias associações,
com praias e dunas, vegetação herbácea
e ocorre desde o Rio São Francisco até o mangue
seco. Essa vegetação serve para fixar as areias das
dunas móveis. Entre essas, destacam-se salsa-dapraia,
grama-da-praia, feijão da praia, capim-gengibre,
xique-xique ou guizo-de-cascavel.
As associações de restingas ocupam largura
variável, encontrando-se nos municípios de Pacatuba
e Pirambu, alcançando muitas vezes 10 quilômetros
de largura. É formada de uma associação
arbustiva perenifólia, que se apresenta baixa, xeromorfa,
formando moitas com espécies de plantas
suculentas pertencentes às famílias Cactaceae,
Clusiaceae e Orchidaceae, dos gêneros Vanilla e
Epidendrum. Aparecem muitas arbustivas que se
intercalam com plantas das famílias das Poaceae
e recobrem parte do solo. Nos campos de restinga,
aparecem as seguintes espécies: ananás, samambaia-
da-praia, murici-da-praia e carrasco.






Ruínas de igreja em antigo engenho de açucar
O porque do estado da Mata Atlântica
A vegetação dos campos de restinga recobrem
os solos de areias quartzozas marinhas distróficas
e servem para fixar dunas móveis e também
o podzol. À medida que essa vegetação vai
se distanciando da linha da preamar e penetrando
para o interior, ela se miscigena com a vegetação
arbórea da restinga, sendo substituída pela mata,
que é uma associação perenifólia pouco densa,
cujas árvores têm altura de quinze metros. Como
exemplo citamos angelim, cajueiro, oitizeiro-dapraia,
pitombeira, palmeira-oroba, ouricurizeiro
e araçazeiros.
A associação campos de várzea é constituída
de plantas herbáceas encontradas nos solos da margem
direita do Rio São Francisco. É uma vegetação
densa, recoberta de gramíneas e ciperáceas que se
encontram nos brejos ou pântanos, várzeas úmidas
e alagadas, ou nas margens dos cursos de água,
onde a água proveniente das chuvas se acumula e
onde a drenagem é insuficiente para o escoamento.
A vegetação é composta de plantas higrófilas
e hidrófilas, assim discriminadas: piripiri, taboa,
aninga, junco, capim-papuã e capim-de-roça.
Nas matas de várzea, aparecem algumas
espécies caducifólias. Margeando as várzeas, os
brejos ou pântanos, desenvolve-se uma associação
de árvores com mais de 30 metros de altura,
de raízes tabulares, enquanto outras apresentam
raízes superficiais longas, que buscam a água. A
copa das árvores é grande e aberta e sua vegetação
é constituída de gameleira-branca, mulungu-branco,
canafístula, ingazeira.
As associações subperenifólias possuem
árvores de até 30 metros de altura e entre suas
espécies encontram-se ingapoca, visgueiro, jatobá,
ouricuri, canafístula, amescla, taquara e
pau-d’alho.
As associações subcaducifólias apresentam-
se com árvores de até 20 metros de altura.
Entre as suas espécies, destacam-se frei-jorge,
camondange, maçaranduba, sucupira, jenipapeiro,
gonçalo-alves, cajueiro, louro e muricida-
mata. As associações caducifólias mistas
com a Caatinga são constituídas de espécies
caducifólias relacionadas com a floresta atlântica
e com espécies da Caatinga. A vegetação
dessa área é constituída, além de árvores de 10
a 15 metros de altura, por espécies arbustivas e
herbáceas, dentre as quais aroeira, pau-d´arco,
angico, mulungu-vermelho, cajazeira, jurema,
pau-de-leite, pau-ferro, braúna-da-mata, unhade-
gato, cedro e trapiá.
A associação de plantas pode ser apenas
de herbáceas ou, se essas criarem condições, arbustos
e depois árvores, que pontilham esparsas.
Com o decorrer dos anos, há uma regressão e as
plantas arbustivas suplantam as herbáceas e depois
surgem árvores que conquistam toda a terra
retornando a vegetação natural primitiva. As
espécies herbáceas e arbustivas dos campos antrópicos
são capim-papuã, capim-pé-de-galinha,
capim-gengibre, capim-favorito, capim-seda,
carrapicho-de-agulha, carrapicho-de-roseta,
capim-amargoso, capim-sapé, grama-de-burro,
carrapicho-beiço-de-boi, capim-mão-de-sapo,
capim-de-raiz, anil, velamo-branco, rurema e
umbaúba.
Os campos antrópicos podem surgir em qualquer
uma das associações perenifólias ou mistas
estacionais. Aparecem, nessas áreas, extensas pastagens
de capim-sempre-verde, capim-brachiária
e capim-pangola.
A fauna da Mata Atlântica é constituída das
seguintes espécies: paca, guaxinim, raposa, cachorro-
do-mato, tatupeba, veado-mateiro, teiú,
camaleão, sagüi, macaco-guigó-de-sergipe, preguiça,
gavião-carijó, urubu-de-cabeça-vermelha
e cobra-de-cipó.

A água e o homem
Sergipe possui uma rede hidrográfica constituída
por pequenas bacias fluviais, à exceção da
do Rio São Francisco, cujos limites se encontram
muito além da área em questão.
Na região da Mata Atlântica, existem
cinco bacias hidrográficas: Complexo Real-
Fundo-Piauí, Rio Vaza-Barris, Rio Sergipe, Rio
Japaratuba e Rio São Francisco. À exceção do
Rio São Francisco, os rios apresentam regimes
hidrológicos intermitentes nos trechos da região
semi-árida e agreste e são permanentes nas regiões
úmidas, onde formam mananciais usados
para abastecimento público, irrigação e recepção
de efluentes industriais e domésticos.
A disponibilidade hídrica é escassa, agravando-
se no período de estiagem, como afirma
Ab’Saber em referência à drenagem: “Um magro
sistema de cursos d’água de áreas semi-áridas,
intermitentes e irregulares, dotado de fraquíssimo
poderio energético e são desprotegidos do
quorum de precipitações anuais suficientes para
os alimentar permanentemente”.
O crescimento populacional, as exigências
crescentes por energia e alimentos estão impondo
crescentes demandas aos suprimentos de água
disponível. Os sistemas de descarga dos detritos e
escoamento de esgotos urbanos e rurais, acrescidos
das atividades industriais e de mineração, são as
principais fontes de poluentes tóxicos das águas.
As águas subterrâneas representam um
precioso manancial de água doce e qualquer
poluente que entre em contato com o solo pode
contaminá-las. Em Sergipe, os lençóis freáticos
são pouco profundos, facilitando a sua contaminação.
Há ocorrências crescentes de contaminação
das águas subterrâneas com água salgada,
contaminadores microbiológicos e produtos químicos
inorgânicos e orgânicos tóxicos, incluindo
pesticidas. Práticas de irrigação têm elevado a
salinidade das águas subterrâneas à medida que
a água utilizada é retirada das áreas da costa.
A exploração de petróleo e gás natural pode
contaminar as águas superficiais e os lençóis de
águas subterrâneas, mistura de água salgada com
água doce.
O desflorestamento nas áreas de bacias hidrográficas
para obtenção de lenha e madeira para
uso doméstico e destinada ao uso comercial, além
das pastagens e práticas de cultivos inadequados,
reduz a quantidade de água disponível durante as
estações secas. Os solos erodidos, que descem
das áreas elevadas, causam a sedimentação das
represas, usadas na armazenagem de água e geração
de energia. O desmatamento está causando
desertificação de grandes áreas antes com farta
cobertura vegetal.
Lizaldo Vieira dos Santos, coordenador da
RMA e Coordenador do MOPEC (SE); e Maria
José dos Santos, do CUPIM (SE).

Nenhum comentário: