domingo, 4 de outubro de 2009

materia da jornal da cidade dia 4 de outubro de 2009 sobre a história de vida de Lizaldo Vieira

Caderno C / Variedades / Texto:
Lizaldo: vida de sofrimento e luta pelo meio ambiente

Publicada: 04/10/2009
Texto: Osmário Santos / Fotos: Alberto Dutra
Lizaldo Vieira dos Santos nasceu a 8 de março de 1956, no engehnho fortina, na cidade de Siriri/SE. Seus pais: Lourival dos Santos e Maria Antônia Vieira. O pai foi agricultor até os 30 anos e está aposentado como funcionário público da Prefeitura de Aracaju. Dele o filho herdou a garra e toda a disposição pelo trabalho. Sua mãe teve 15 filhos e sempre trabalhou para ajudar o sustento da família. “Uma mulher que viveu na casa do engenho, a casa grande. Uma mulher corajosa e de muita fibra, no entanto, sofredora, pois aos 60 anos morreu sem ter direito a uma aposentadoria. Dela tenho respeito pelas pessoas, o amor à vida, carinho pelo ser humano, respeito à dignidade, natureza e meio ambiente”. A infância do menino Lizaldo aconteceu em Capela e com muito sofrimento. Aos oito anos de idade já trabalhava nas usinas de Capela. “Não só plantava cana como chamava boi. Começava o trabalho no canavial às 4h da manhã. Parava às 8h e às 11h para comer aquela bóia, chamada farinha. Retornava ao canavial às 13h e só largava às 17h. Era um trabalho muito pesado”. Com 12 anos de idade começa a estudar na Escola Rural Lagoa Seca. Estudava até ao meio-dia e à tarde passava no grupo escolar. Assim aconteceu por três anos. Aos 14 anos de idade deixa Capela, devido à vontade da mãe que não queria ver nenhum filho se acabar na palha da cana. “Por ironia do destino, me mandou trabalhar na casa do dono da Usina Santa Clara”. “Vim para Aracaju com a finada Berenice Barreto, esposa de Ariosvaldo Barreto, dona da usina. Fiquei morando num quarto no fundo da casa do casal, na avenida Ivo do Prado. Cuidava do jardim e fazia serviços gerais. Estudava pela noite”. Na escola da Irmã Zorilda, na rua Riachuelo, termina o curso primário. “Tive a felicidade de ser aluno da professora Zuleica Andrade. Uma excelente professora. Ela ensinava pelo dia no Colégio Salvador e à noite na escola da Irmã Zorilda”. No Colégio Patrocínio São José no curso da noite, que atendia alunos que não tinham como pagar escola particular, estuda até o terceiro ano ginasial. “Deixei o colégio porque ficou muito pesado diante do trabalho que fazia durante o dia. Troquei o curso ginasial pelo curso supletivo que fiz na Escola Severino Uchôa”. Faz o curso científico na Escola Maria do Carmo, no conjunto Augusto Franco. Ao terminar o segundo grau, por duas tentativas faz o vestibular para a UFS, mas não consegue aprovação. Daí deixa os estudos de lado e dá continuidade a sua árdua vida. Larga o trabalho de jardineiro e serviços gerais aos 18 anos, diante da decisão de partir em busca de um melhor emprego. Vai à luta com todo fôlego e garra. Com sucesso faz concurso para a Petrobras para trabalhar na função de praticante de produção em Carmópolis, mas devido a sua condição física não é aproveitado no emprego. “Na época era bem magrinho. Depois de me examinar o médico me disse que o trabalho ia ser muito pesado e não daria para mim. Se fosse para o escritório passaria no exame”. Corre atrás de outra oportunidade e passa a ser zelador do Hospital de Cirurgia, em Aracaju. “Limpava o hospital e até cuidava da jardinagem”. Tomando conhecimento por uma amiga enfermeira de oferta de emprego na empresa Revaisa, pela boa conversa, inteligência e comunicação, sai balconista do setor de peças para motocicleta”. Depois de dois anos e meio de Revaisa, por passar em concurso público para a Universidade Federal de Sergipe no ano de 1979, uma outra história. “Fiz concurso para a vaga de garçom, sem nunca ter trabalhado na profissão (risos e mais risos). Era a chance de entrar na universidade” (risos). A oferta era para cinco vagas e tive que enfrentar 30 inscritos. Fui o terceiro por ordem de classificação e o segundo por ordem de chamada. Servia o café ao reitor Aloízio de Campus e a todos que passavam pelo gabinete no prédio da Reitoria”. Como garçom da Universidade Federal de Sergipe, o período de oito anos de um trabalho que fazia com todo o prazer e que resultou na conquista de muitos amigos. “Fiz muitas amizades. Na época, a gente ficava na Secretaria de Comunicação na espera das chamadas para servir o café e água no gabinete do reitor. Foi quando fiz amizade com Lânia Duarte, Paulo Lacerda, Gilvan Fontes, Newton Nunes. Depois foram chegando outros assessores de comunicação e sempre uma boa amizade”. Deixa de ser garçom por ter sido aprovado em concurso interno para auxiliar administrativo da universidade. “Um cargo melhor. É onde estou até hoje”. Ainda do seu tempo de garçom, registra que tem boas lembranças da amiga e professora Ofenísia Freire, do professor Alencar Filho, professor e médico Eduardo Garcia, professor José Paulino, do médico e professor Hermínio e outros. Na UFS já foi lotado no Departamento de Direito, Centro de Ciências Humanas e na prefeitura, chegando a ser chefe do horto florestal e hoje trabalha no Departamento de Administração Acadêmica. Sua história de amor e ações em prol do meio ambiente começa depois da Eco 92. “Na universidade existiam discussões voltadas para o meio ambiente através do Departamento de Geologia, Biologia e do Centro Acadêmico. Um tempo da criação do Partido Verde em Sergipe, onde fui um de seus fundadores, junto com o professor José Araújo, Paulo Dantas Sobral, Reinaldo Nunes, Luís Fernando, Wilson Silva e outros”. Lizaldo sai candidato a vereador na primeira eleição do PV. “Já morava no conjunto Augusto Franco e isso me ajudou a conseguir 150 votos”. Não desiste, parte para outra tentativa na eleição seguinte, mas nada de aprovação popular. Muda de partido e quase faz um gol de placa. Sai candidato a vereador pelo PT e chega a suplente de vereador em Aracaju na eleição em que o partido lançou Ismael Silva a prefeito de Aracaju, mas não vingou. “Conquistei 800 votos”. Por conta da sua participação no Partido Verde e sentindo que pela via partidária a luta pelo meio ambiente engessava, funda um movimento ligado aos setores sociais para debater junto com as comunidades e meio estudantil as questões do meio ambiente em Sergipe, pois a sua vontade era começar de fato a fazer alguma coisa a seu favor. Cria o Movimento Popular Ecológico de Sergipe (Mopec), uma ONG que continua a atuar diante do seu constante trabalho e dedicação. “Hoje o Mopec conta com 21 anos. A Associação de Proteção Ambiental (Aspan), de Clovis Franco, Genival Nunes e outros ambientalistas, foi a primeira, mas também somos pioneiros”. Revela que o Mopec surgiu de um grupo de jovens da universidade que deixou o Partido Verde para fundar o movimento. “O companheiro Luiz Fernando, Sérgio Borges, Reginaldo Carlos, a jornalista Kátia Santana e outros”. Conta que o foco de suas ações ambientalistas estão concentradas em sua grande parte em Aracaju. Também desenvolve ações nas cidades de Capela e Rosário do Catete. Das grandes lutas do Mopec: “A questão dos manguezais em Aracaju diante da agressão pelos homens através de aterro e lixo. Em Capela, fruto da nossa luta junto com o povo da cidade e ambientalistas, a concretização pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídrico, graças ao empenho do secretário Márcio Macedo e aprovação do governador Marcelo Déda, a criação do Refúgio de Vida Silvestre Mata Atlântica do Junco, que já é uma Área de Proteção Ambiental (Apa). Outra luta importante foi a de tirar a fábrica de cimento de Aracaju. Foi uma luta titânica. Fomos para o rádio, participamos do movimento do bairro América, caímos em campo para colher assinaturas no movimento liderado pela igreja através dos padres capuchinhos. Mais outra luta, a do aterro do manguezal da 13 de Julho que o ex-prefeito Wellington Paixão queria fazer para construir edifícios na 13 de Julho. Em Rosário do Catete, trabalhamos na defesa do rio Siriri diante da sua poluição”. Registra que sua ONG atua sem grande estrutura, mas se sente gratificado pelo reconhecimento de seus trabalhos até fora de Sergipe. “Hoje o Mopec é membro da Coordenação Nacional da Rede de ONGs da Mata Atlântica. Lutou, inclusive, pela aprovação da Lei de Proteção da Mata Atlântica e do decreto”. Diz que no momento está empenhado na luta pelo Plano Diretor de Aracaju através do Fórum em Defesa de Aracaju. É solteiro.

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