sábado, 21 de novembro de 2009

Carta de Toosa - sobre sergipe

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A carta de Tolosa como documento histórico – reflexão 1
Não é novo que o historiador é um pesquisador dos registros da cultura material deixados por homens e mulheres do passado. Visto que a história escrita se faz através dos documentos, o mesmo sempre exige erudição e sensibilidade no tratamento das fontes, afinal, delas depende a construção do seu discurso.Essa regra não foi quebrada com a interpretação da carta de Tolosa – exemplo notável do hábito que tinham os jesuítas em escreveram cartas, informes, relatórios e crônicas informando seu cotidiano na América portuguesa.Nos textos de história de Sergipe, muitos historiadores, antropólogos e outros profissionais – Maria Thetis Nunes, Beatriz Góes Dantas, Felisbelo Freire – fazem uso da carta em forma de citação de frases ou comentários nos textos de outros pesquisadores.Neste caso em questão, à medida em que interpretamos a primeira parte dessa carta, identificamos nela elementos importantes na compreensão da colonização de Sergipe. Vejamos alguns deles: Inicialmente, quando diz que “vieram do Rio Real” denota tanto a localização (Sergipe) como o significado desta, ou seja, era um região considerada sertão e de selvagens indóceis a “civilização portuguesa”, repleta de conflitos entre índios e fazendeiros, que o Pe. Lourenso agia como apaziguador.A partir daí a carta passa a nos relatar que os chefes indígenas vieram em busca dos padres, da salvação – na realidade provavelmente ocorreu o contrário, já que a região era de interesse da Companhia de Jesus e da coroa portuguesa.Tolosa continua por dizer que inicialmente os padres preferiram esperar um pouco para saber se a intenção dos chefes indígenas era realmente “aprender as cousas de Deus”. Após tal constatação, seguiram com estes.Ele também situa o início das missões nesta região – fevereiro de 1575.Era urgente que o governador da época, apontando por Tolosa como Luiz de Brito, ocupasse esse território ao qual enviou soldados junto às missões, devido a presença dos franceses – mais ao norte da capitania – que faziam alianças com os nativos. Era necessário que os selvagens fossem “civilizados” e para tanto, dependia da Igreja.É interessante a parte da carta que fala do índio triste por seu filho está no inferno e solicitar o batismo para ser salvo, sendo que inferno e batismo não existiam no cotidiano indígena, mas sim no dos jesuítas.A carta fala também sobre os mitos indígenas acerca da sua origem e retrata-os como versões distorcidas do dilúvio descrito em Gêneses, na Bíblia.Ao final dessa parte da carta, Tolosa fala da hospitalidade com que os jesuítas foram recebidos, e mais uma vez reitera que Lourenço estava ali para manifestar a lei de Deus, ensinar o caminho de salvação e livra-los da cegueira.Nessa breve consideração da primeira parte da carta, percebemos que o ideário jesuíta não se limitava a “edificação” espiritual, conforma José Carlos Sabe Bom Meihy. Mas, suas cartas, segundo Londoño, “seriam recolhidas e enviadas à Europa constituindo textos diferenciados, produzidos como parte de um projeto missionário que estava sendo construído e para o qual o poder sempre foi o referencial fundamental (...) Constituem um espaço de tensão, de negociação, de recuos e principalmente de ação”.As cartas tinham multiplicidade de sentidos e dentre estes, registrar o sucesso que os jesuítas estavam obtendo em subjugar os índios.Karla Karine de Jesus Silva

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